Antes do anúncio do acordo, presidente disse que o País só vai renovar programa em novas bases
MAPUTO, Moçambique – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil não fará um acordo com o Fundo Monetário Internacional que prejudique o crescimento do País. Lula criticou o FMI, dizendo que os ajustes fiscais que o Fundo impôs aos países não deram certo. Reiterou que o Brasil não precisa de dinheiro do FMI – nem sequer da última parcela de US$ 8 bilhões do acordo passado, que vence em dezembro – e que só fará acordo se for sobre novas bases.
“Se o Brasil se dispuser a fazer um acordo preventivo, o FMI precisa mudar de comportamento”, avisou Lula, em entrevista coletiva ao lado do presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, no palácio presidencial, em Maputo. “Não é mais necessário ficar exigindo que nenhum país faça ajuste fiscal, mas que os países assumam o compromisso, nos acordos com o FMI, da retomada do crescimento e do desenvolvimento econômico. Até porque o ajuste fiscal foi fracassado na maioria dos países.”
Lula, em viagem de uma semana por cinco países da África, conversou na noite de terça-feira com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sobre a visita de ontem da gerente-adjunta do FMI, Anne Krueger. O presidente disse ter telefonado para o ministro quando soube que os jornalistas lhe perguntariam sobre o eventual novo acordo com o Fundo.
Segundo Lula, o que os países precisam é de voltar a crescer e essa deve ser a base de qualquer acordo. “Não haverá acordo impeditivo de crescimento da nossa economia”, garantiu o presidente. Ele não quis adiantar especificidades técnicas, como uma eventual redução do atual patamar de 4,25% de superávit primário e a inclusão ou não dos investimentos das estatais nesse cálculo, como ocorre atualmente.
O presidente lembrou que a meta de superávit primário (receita menos despesas, sem contar os juros da dívida) foi definida em junho, na Lei de Diretrizes Orçamentárias. “Portanto, o superávit é uma decisão do governo, não do FMI”, argumentou ele. “Poderemos mantê-lo na próxima LDO ou não.” Até porque, segundo ele, o superávit primário “não dá para pagar nem 50%” do que o País desembolsa só em juros.
“Um país ter uma dívida de 50% ou 60% do PIB (Produto Interno Bruto) não seria muita coisa se essa dívida fosse prefixada com prazos mais longos”, salientou o presidente. “O problema do Brasil é que a dívida se paga todo dia.” Lula citou o exemplo da Itália, cuja dívida interna, segundo ele, supera 100% do PIB e sua economia vai bem.
“Todos os indicadores apontam uma retomada do crescimento da economia brasileira”, disse o presidente. “Mesmo os mais pessimistas dos analistas sabem que a economia brasileira voltou a crescer em setores importantes, de máquinas, papel e papelão, indústria automobilística e eletroeletrônicos.”
“A economia está naquele ponto que entendíamos que deveria estar”, avaliou Lula. “Não vai parar de crescer e não faremos nenhum acordo que impeça a economia brasileira de recuperar o tempo perdido, até porque nós temos que crescer muito nos próximos anos para poder dar os empregos de que o povo brasileiro tanto precisa”, concluiu o presidente.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.