Presidente é recebido com festa na ilha; Gilberto Gil canta para a população
SÃO TOMÉ, São Tomé e Princípe – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ontem “recuperar o tempo perdido” nas relações com a África. “Durante muitos anos, o Brasil esteve de costas para a África”, disse o presidente, no primeiro discurso de seu giro de uma semana pelo continente. “Nos próximos anos, vamos fazer mais do que nos últimos 15 a 20 anos.” Lula fez a declaração ao inaugurar a embaixada do Brasil em São Tomé e Príncipe, anunciando que, no ano que vem, o País abrirá outras representações diplomáticas na África.
O presidente disse que dará “máxima prioridade ao relançamento das relações com a África”, especialmente os países de língua portuguesa. “É o começo do pagamento da dívida histórica que o Brasil tem com a África, e que vamos pagar.” Lula tinha estado na África Negra apenas em 1994, quando se reuniu com o então presidente sul-africano Nelson Mandela, que deve voltar a encontrar no fim desta semana.
O assessor especial para Relações Exteriores, Marco Aurélio Garcia, lembra que o Brasil, depois de ter tidos intensas relações com os países africanos – foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, por exemplo, em 1975 -, perdeu o interesse pela região. “Os Estados Unidos não acreditaram – como nós – que a África ia acabar”, comparou Garcia.
No caso específico de São Tomé, Lula lembrou o protagonismo exercido pelo Brasil, junto com Estados Unidos e Nigéria, para desencorajar um grupo de militares golpistas, que chegou a afastar o presidente Fradique de Menezes em julho. “Tenho orgulho em afirmar que a embaixada brasileira, então recém-instalada, desempenhou papel à altura da amizade e confiança entre nossos países na crise constitucional de julho”, discursou o presidente. Mais tarde, no palácio, Menezes agradeceu a Lula por seu papel no episódio.
Na primeira visita de um presidente brasileiro à ilha, desde sua independência em 1975, Lula teve uma recepção calorosa. Cerca de 2 mil santomenses foram recebê-lo no aeroporto, ao som de um trio elétrico que tocava música do grupo brasileiro É o Tchan! e até um jingle criado para a ocasião, que dizia: “Brilha como estrela, presidente do Brasil.”
Na inauguração da embaixada, foi a vez de o ministro da Cultura, Gilberto Gil, uma celebridade em São Tomé, cantar uma música. Acompanhado pelo trio elétrico, Gil entoou “No woman no cry”, de Bob Marley, na sua versão em português, “Não chores mais”. Quando o presidente chegou para a inauguração, as caixas de som colocadas na frente da casa começaram a tocar Bandeira do Divino, de Ivan Lins: “Deus nos salve esse devoto, dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome”.
A visão de centenas de estudantes de túnica azul no aeroporto e no percurso até o centro de São Tomé lembrou o presidente de uma promessa ainda não cumprida: o fornecimento de uniformes para os alunos das escolas públicas. “São pobrezinhas, mas todas com uniforma da escola”, observou Lula, falando das crianças que foram recebê-lo no aeroporto. “É importante, porque, na escola pública, a criança é discriminada pela roupa que veste”, disse ele, lembrando do tempo em que estudava na Vila Carioca, em São Paulo.
“O Cristovam (Buarque) está devendo”, disse o presidente, referindo-se à compra dos uniformes, a cargo do ministro da Educação. “É difícil, porque são 32 milhões de crianças e o kit tem 13 itens.” O ministro garantiu que a licitação para a compra dos uniformes “está saindo”.
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