Já o governo Lula teve de assimilar a onda de repressão na ilha
HAVANA – “Se Lula aparecesse aqui, esta praça viria abaixo”, garante Manuel Antonio Mendoza. Secretário-geral do sindicato de funcionários do Hospital Calixto García, Mendoza foi às comemorações do Primeiro de Maio, na Praça da Revolução, ostentando as várias medalhas que recebeu, pelos serviços prestados à própria: veterano da guerrilha, fundador dos Comitês de Defesa da Revolução, alfabetizador, etc.
“Sabemos que Lula não pode resolver todos os problemas do Brasil, porque lá não houve revolução, mas ele é um progressista, ainda que faça pouco, algo ou muito”, desculpa o veterano, de 65 anos. As ponderações de Mendoza vão na linha do governo cubano. Inicialmente eufórico com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o regime depois teve de encontrar explicações para a visível moderação e ortodoxia do “companheiro”, na esfera econômica.
Mas não são só os cubanos que têm de se acomodar às realidades no país amigo. O governo Lula também teve de assimilar os fuzilamentos e prisões em massa na ilha. Em declaração de voto na Comissão dos Direitos Humanos da ONU, dia 17, o governo brasileiro deu uma no cravo e outra na ferradura: foi contra moção de censura ao regime cubano, mas também explicitou sua contrariedade pela aplicação da pena de morte.
“Eu particularmente continuo encantada com a história de resistência, lutas e sacrifícios desse povo”, garante a brasileira Emília Fernandes, secretária especial de Política para a Mulher. “Se por um lado não apoiamos nenhum tipo de violência, como a pena de morte sem direito a defesa, repudiamos a tentativa de desmonte da nação cubana, por atitudes extremas dos EUA, que querem dominar o mundo”, explicou Emília, que participou na semana passada em Havana de um seminário da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal).
A ex-senadora petista foi a primeira representante do governo Lula a visitar Cuba depois da onda de repressão. O novo embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago, ex-deputado pelo PT mineiro e velho conhecido de Fidel, chega hoje a Havana. Ainda não há data marcada para a apresentação de suas credenciais ao governo cubano. Mas já há muito o que conversar.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.