Prateleiras cubanas estão abarrotadas de produtos a preços equivalentes aos do Brasil. Mas faltam compradores
HAVANA – Hugo Chávez pode ser muito bolivariano, mas não rasga dinheiro. As gôndolas dos supermercados cubanos estão repletas de latas de ervilha, cenoura e milho, potes de ketchup, mostarda e maionese da marca La Giralda, Hecho en Venezuela.
Mas o mercado cubano é democrático. Há biscoitos, chocolate em pó, carnes enlatadas e calçados do Brasil; absorventes femininos da Colômbia; roupas da China; cremes hidratantes da Itália; óleo vegetal da Argentina; maçãs do Chile; e até feijão preto e produtos farmacêuticos dos EUA – por alguma triangulação que escapa ao embargo.
Os preços dos importados não diferem muito dos do Brasil: um pacote de 200 gramas de biscoito brasileiro custa 0,65 peso conversível, ou CUC (R$ 1,75); uma calça jeans chinesa, 23 CUCs (R$ 62,10). São os produtos fabricados em Cuba que têm preços acima do normal: 400 ml de xampu custam 3,45 CUCs (R$ 9,31); uma lata de Tu Kola, imitação da Coca-Cola, 0,55 CUC (R$ 1,48); uma lata de cerveja Bucanero, 1 CUC (R$ 2,70).
As prateleiras estão cheias; o que falta são consumidores.
Novos automóveis Peugeot, Renault e Volkswagen – cuja compra, curiosamente, tem de ser autorizada pelo gabinete do vice-presidente Carlos Lage – convivem nas ruas com as clássicas “banheiras” americanas dos anos 50 e os antiquados Ladas e Muscovis russos.
Os “camelos”, terríveis vagões montados sobre chassis de caminhões que transportam gente, e os ônibus escolares americanos amarelos, que vieram via Canadá, concorrem com coletivos da marca brasileira Busscar, montados em Havana.
No pacote da “Revolução Energética”, o governo subsidia a troca dos velhos eletrodomésticos soviéticos por modernos aparelhos fabricados na China, muito mais econômicos, ao preço total de apenas US$ 100 por família, financiados em 20 anos.
As grandes companhias petrolíferas do mundo, exceto as americanas, estão prospectando jazidas cubanas.
O ministro da Economia e do Planejamento, José Luis Rodríguez, previu para este ano aumento de 17,7% nas exportações de bens e serviços. E um crescimento da economia da ordem de 10%. Esse crescimento, que em 2005 já foi de 11,8%, segundo o ministro, é impulsionado pela exportação de serviços e pela centralização do câmbio, que permitiu ao governo desvalorizar o dólar em 20% em relação ao peso conversível e aumentar os salários.
Se produzisse mais, Cuba exportaria mais. O problema da economia cubana não é o embargo americano, como quer a propaganda do regime. É renda. O país gera muito pouca riqueza. Todo dia parece domingo, com pouco movimento nas ruas e muitos desocupados olhando o tempo passar.
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