PORTO PRÍNCIPE – Numa cena carregada de simbolismo, cerca de 20 helicópteros Black Hawk aterrissaram ontem no gramado do palácio presidencial em Porto Príncipe, destruído pelo terremoto do dia 12, desembarcando soldados americanos, equipamento e caixas com garrafas de água e alimentos. A tomada do palácio reavivou lembranças da ocupação americana do Haiti (1915-34) e ao mesmo tempo esperanças de maior distribuição de alimentos e imposição da ordem na capital, assolada por saques. A expectativa foi reforçada por decisão da ONU de enviar reforços de 3,5 mil militares e policiais.
Agarrados às grades que circundam o palácio desocupado, centenas de haitianos saudaram os soldados americanos: “Grande! Ouça-os chegando.” Outros criticaram a sua presença. “Não os vi distribuindo comida no centro da cidade, onde o povo necessita urgentemente de água, alimentos e medicamentos. Isso parece mais uma ocupação”, disse aos repórteres o estudante Wilson Guillaume, de 25 anos. Depois do terremoto, o presidente René Préval instalou seu gabinete numa delegacia de polícia perto do aeroporto.
“Não gostaríamos de ver o desembarque militar estrangeiro em nosso país, mas, dada a terrível situação em que nos encontramos, a presença deles é necessária”, ponderou Moline Augustin, que observava o movimento do lado de fora do palácio. “Estamos felizes que eles tenham chegado porque temos muitos problemas”, disse o cabeleireiro Fede Felissaint. “Se quiserem, que fiquem por mais tempo do que em 1915.”
Mais de 11 mil militares americanos estão no Haiti, em embarcações na costa ou a caminho do país. Os Estados Unidos afirmam que a principal missão dos soldados é humanitária, para participar e ajudar a proteger a enorme operação internacional de ajuda humanitária para as vítimas do terremoto. No entanto, comandantes americanos também têm dito que estão preparados para impor a segurança na capital, caso necessário. O comando das forças da ONU está a cargo do Exército brasileiro, que contribui com 1,3 mil dos 7 mil soldados da missão de paz.
Na segunda-feira, paraquedas levando 14,5 mil caixas de alimentos e 15 mil litros de água foram lançados por helicópteros americanos em uma área a 8 quilômetros do aeroporto de Porto Príncipe.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou ontem por unanimidade um contingente extra de 2 mil militares e 1,5 mil policiais. Esses últimos se incorporarão à força policial internacional, que já conta com 2,1 mil integrantes. O reforço é destinado a conter os saques, que muitas vezes atrasam a distribuição da ajuda enviada ao país, além de gerar tumultos e violência na capital. O terremoto matou mais da metade dos 4,5 mil policiais haitianos, que foram reduzidos a 2 mil.
“Este envio contribuirá para a manutenção da paz e apoiará os esforços para ajudar na recuperação do Haiti”, disse o presidente de turno do Conselho, o embaixador chinês Zhang Yesui. O responsável pelas Operações de Paz da ONU, Alain Leroy, ressaltou que os soldados enviados para o Haiti vão escoltar os comboios civis com a ajuda humanitária e assegurar uma distribuição “justa e ordenada”.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, reforçou o pedido para que a comunidade internacional continue ajudando o Haiti: “Peço a todas as ONGs que cooperem com a ONU na assistência.”. Ele garantiu que as dificuldades iniciais e os atrasos para enviar ajuda humanitária estão sendo superados. Com AP, AFP, EFE E REUTERS
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