Cinco dias depois do terremoto que deixou a capital haitiana semidestruída, as equipes de resgate ainda estão retirando pessoas com vida dos escombros.
PORTO PRÍNCIPE – Pelo menos quatro sobreviventes foram salvos ontem: três haitianos no supermercado Caribbean, um dos maiores da cidade, e uma francesa no Hotel Christopher, encontrada por bombeiros brasileiros.
A equipe trabalhava nos escombros do hotel por volta de 6 horas, quando ouviu alguém batendo no concreto. O tenente Jefferson Porto, do Corpo de Bombeiros do Rio, mandou desligar a escavadora e fazer silêncio. Tratava-se de uma mulher francesa, com idade estimada de 30 a 40 anos. “Ela falava calmamente, sem nenhum sinal de desespero”, contou Porto. Uma equipe francesa assumiu o resgate.
Quatro militares brasileiros continuavam ontem sob os escombros do hotel, do qual foi retirado no sábado o corpo do representante-adjunto da ONU em Porto Príncipe, Luiz Carlos da Costa. A operação está a cargo de 31 bombeiros do Rio, que trabalham 24 horas por dia. No sábado, foram retirados 12 corpos do Christopher.
No Caribbean, bombeiros americanos retiraram com vida três haitianos entre 3 horas e 6 horas da madrugada de ontem: uma menina de 7 anos, um homem de 34 e uma mulher de 50. No total, as 43 equipes internacionais em Porto Príncipe resgataram 70 pessoas com vida.
Nem todos têm tido a mesma sorte. Na madrugada de domingo, Witchar Longfosse assistia, sentado na laje de uma construção ao lado, ao trabalho de 24 bombeiros de Los Angeles e da Flórida, que removiam os escombros do Unibank, onde sua mulher Widline trabalhava. “Sinto que ela está viva”, dizia Witchar, que como Widline tem 28 anos e um bebê de cinco meses.
Engenheiro de tecnologia da informação, Witchar trabalha na Digicel, e estava no oitavo andar do prédio de 11 da empresa de celular no momento do terremoto. Mas o prédio foi construído para resistir a terremotos, e todos os funcionários saíram ilesos. Já o edifício de três andares do Unibank desabou. Witchar chegou em seguida e ajudou a resgatar duas pessoas, com as mãos. Outras quatro foram retiradas de lá até quinta-feira, e na sexta ainda se ouvia a voz de uma mulher soterrada. Depois de trabalhar no local durante mais de 12 horas, os bombeiros desistiram do edifício.
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