Bolsas dos EUA caem com números ruins da economia

Caem confiança do consumidor e número de alvarás construções; déficit público é recorde

NOVA YORK  – Em meio a mais uma onda de más notícias vindas da economia real, as ações caíram ontem em Nova York, cumprindo o seu ritual de sobe-e-desce ao longo de toda a semana. Os nove maiores bancos dos Estados Unidos aceitaram o plano do governo de injeção de recursos em troca de participação acionária e as ações das instituições financeiras dispararam, mas não o suficiente para compensar as perdas nos outros setores da economia, submersos na certeza de que o país caminha para a recessão.

O pior indicador veio justamente da construção civil, o setor que desencadeou a crise no ano passado. O Departamento de Comércio informou que foram solicitados 817 mil alvarás de construção de residências no mês de setembro. O número representa uma queda de 6,3% em relação ao mês anterior, e é o menor desde janeiro de 1991. O mercado esperava que ele ficasse em 880 mil. Para a construção de casas, a queda nos pedidos de alvarás foi de 12% – a maior desde agosto de 1982.

Levantamento feito pela agência Reuters em conjunto com a Universidade de Michigan registrou uma queda brutal na confiança dos consumidores. O índice caiu de 70,3, em setembro, para 57,5, em outubro. Foi a pior queda desde que o levantamento começou a ser feito, em 1981.

Noutro campo da economia real, o setor de refrigerantes e comidas rápidas, houve boas e más notícias, mas o mercado, deprimido, deu mais atenção às últimas. A Coca-Cola, maior fabricante de refrigerantes do mundo, anunciou lucros no terceiro trimestre acima dos previstos em Wall Street, e suas ações subiram 6%. Entretanto, a insistência de más notícias sobre o desempenho da PepsiCo falou mais alto. O grupo teve a maior queda em suas ações desde a crise de 1987.

Com o sinal verde dos bancos ao pacote de US$ 250 bilhões do governo para injetar-lhes recursos, o índice KBW, que agrupa 24 instituições financeiras, subiu 12,2%. No acumulado de dois dias, o indicador aumentou 17,9%. As ações do Citigroup subiram ontem 18,2% e as do Bank of America, 16,4%. Mesmo assim, o índice Dow Jones fechou em queda de 3,73%. Já a Nasdaq, que reúne as empresas de tecnologia, caiu 3,03%.

Em Washington, o presidente George W. Bush admitiu ontem a necessidade de reforma do sistema financeiro, defendida por governantes europeus, mas advertiu para as “conseqüências indesejáveis” de um excesso de regulação sobre o capitalismo. “Não devemos nunca perder de vista os enormes benefícios do sistema de livre iniciativa”, disse Bush, que se reúne hoje na Casa Branca com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e com o português José Manuel Barroso, presidente da Comissão Européia. “Apesar das correções (que devem ser feitas) nos mercados e apesar de determinados abusos, o capitalismo democrático segue sendo o maior sistema já concebido.”

Segundo os críticos, as resistências do governo Bush em intervir na economia ampliaram a atual crise. O governo se negou a evitar a quebra do banco Lehman Brothers, há um mês, que levou as outras instituições financeiras a bloquear a concessão de créditos entre si, que irriga a economia.

O governo republicano também resistiu inicialmente à idéia de comprar ações dos bancos como forma de lhes garantir liquidez, apresentando um plano de aquisição de ativos podres que não devolveu a confiança ao mercado. A estratégia só foi adotada depois, diante das pressões do Congresso e do aprofundamento da crise.

Ironicamente, enquanto o presidente americano defendia idéias liberais, o déficit público dos Estados Unidos atingia ontem um novo recorde, de US$ 455 bilhões, para o ano fiscal de 2008, encerrado no dia 30. O rombo ficou muito acima da última estimativa do governo, de US$ 389 bilhões. O recorde anterior, registrado em 2004, no calor da guerra no Iraque, era de US$ 413 bilhões.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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