Encravado no Meio-Oeste americano e no Cinturão do Milho, Iowa é tradicionalmente considerado um “battleground State”, um campo de batalha em que republicanos e democratas se engalfinham e vencem alternadamente por margens ínfimas.
IOWA CITY – Em 2000 venceu o democrata Al Gore e em 2004 o republicano George W. Bush, ambos em votações apertadas. Este ano, as pesquisas indicam uma folgada vantagem de 8 a 15 pontos para Barack Obama.
Aqui, a principal explicação está no milho, cujas plantações dominam monotonamente a paisagem do Estado. Mais precisamente, no derivado que provocou um novo boom no setor agrícola dos EUA: o etanol. “Gostamos de Obama, porque ele quer desenvolver os biocombustíveis e isso gera mais confiança na indústria”, explica Michael Ott, diretor-executivo da Biowa, que desenvolve tecnologia e planos de negócio para a produção de etanol a partir da planta do milho, de resíduos de madeira e de lixo. Obama estabeleceu como meta “eliminar a dependência do petróleo do Oriente Médio em dez anos” e prometeu US$ 150 bilhões de investimentos em fontes alternativas de energia.
John McCain, ao contrário, quer eliminar os subsídios para o etanol, atualmente de R$ 0,27 por litro (em janeiro, cairá para R$ 0,24). Além disso, os produtores recebem entre R$ 12 e R$ 16 por hectare plantado de milho e soja. Isso porque os preços dos grãos estão altos. Quando caem, os subsídios aumentam. Não é que McCain não acredite em subsídios. Em vez dos biocombustíveis, ele quer subsidiar a energia nuclear e construir 45 novas usinas, além das 104 já existentes nos EUA.
“Antes eu era republicano, agora me considero independente”, diz Ed Williams, de 60 anos, que tem uma fazenda de 121 hectares no leste de Iowa, onde sua família se instalou há cinco gerações, em 1853. “O pai de Bush era mais razoável”, compara Williams, que, no entanto, votou no atual presidente nas duas eleições. “Como fazendeiro, prefiro Obama por causa dos subsídios, mas esse não é o único motivo. Podemos liderar o mundo, mas não dominá-lo. Não podemos mais sustentar essas guerras.”
Russell Miller, de 64 anos, também sempre foi republicano, como a maioria dos fazendeiros de Iowa, e votou em Bush em 2000 e em 2004. Mas agora está entre Obama e não votar em ninguém. “Parece que McCain seguiu um bocado as idéias de Bush. E agora olhe como estamos”, critica Miller, que produz ovos e tem 73 hectares arrendados para cultivo de milho e criação de porcos. “Os preços dos combustíveis finalmente começaram a baixar, mas a economia está uma bagunça.” A guerra também o incomoda. “Devíamos estar fora do Iraque há muito tempo”, diz Miller, cuja filha de 40 anos acaba de entrar para a reserva, depois de servir na Marinha, por dois períodos no Iraque. “Os militares passaram por maus pedaços e sinto muito por eles. Não é certo tanta gente morrendo.”
Claro que essa continua sendo uma região profundamente conservadora, e para muitos isso fala mais alto que a guerra, os subsídios ou os problemas econômicos. “Sou bastante conservador”, diz David Schmidt, de 60 anos, que tem 113 hectares de milho e soja e outros 607 arrendados. “Não creio que aumentar os programas sociais seja a solução. Gostaria de ver menos governo, e não mais.”
“Não concordo com McCain em muitas questões, como por exemplo em relação às fontes renováveis de energia”, admite Schmidt, enquanto opera uma imensa colheitadeira, que varre o milharal e já despeja grãos de milho num caminhão. “Preferiria viver sem subsídios. Mas o governo tem intervindo na agricultura por tanto tempo que não pode simplesmente sair de uma hora para a outra. Mesmo que McCain ganhe não poderá mudar isso.”
Numa parcela dos eleitores, McCain perde votos por não ser suficientemente conservador. “Meu cavalo está fora do páreo”, diz Roy Dwitt, um torneiro mecânico de 29 anos, filiado ao Partido Republicano, que não sabe se votará em McCain ou em ninguém. “Gosto das posições de Mike Huckabee”, explica ele, referindo-se ao ultraconservador ex-pastor batista e ex-governador do Arkansas derrotado nas primárias republicanas. “Ele tem idéias firmes, não fica indo e voltando.”
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