Democrata não vai zerar déficit, diz assessor

Para campanha de Obama, tamanho do rombo não permite liquidá-lo, como promete McCain

NOVA YORK – O candidato democrata a presidente, senador Barack Obama, considera impossível equilibrar as contas públicas dos Estados Unidos no próximo governo. Foi o que admitiu na noite de segunda-feira Austan Goolsbee, assessor econômico de Obama, durante debate na Universidade de Colúmbia, em Nova York, dominado pelo problema do déficit público crescente. O candidato republicano, senador John McCain, promete zerar o déficit.

“Dado o tamanho do rombo, não é realista equilibrar o orçamento nos próximos quatro anos”, disse Goolsbee. “Obama vai reduzi-lo.” Segundo o economista, isso seria obtido com cortes de gastos, por exemplo, com a guerra do Iraque, que já custou “pelo menos US$ 1 trilhão, talvez mais”. O candidato democrata cortaria também “programas ineficientes, como subsídios de US$ 15 bilhões ao ano dados a planos privados de saúde para competirem com o sistema público”.

Em contrapartida, acusou Goolsbee, o programa de McCain aumentaria o déficit público em US$ 350 bilhões, que seria o montante das isenções fiscais por ele prometidas. “Como pode alguém olhar para o fracasso dos últimos oito anos e se propor a repetir exatamente as políticas que levaram a esse fracasso?”, perguntou Goolsbee, acusando os republicanos de oferecer aos bancos e às grandes corporações generosos incentivos fiscais. Obama promete reduzir impostos para 95% dos trabalhadores, com rendimento anual de até US$ 90 mil, e não aumentar para os que ganham até US$ 250 mil.

Douglas Holtz-Eakin, economista-chefe da campanha de McCain, garantiu que seu programa vai equilibrar as contas por meio da redução dos impostos, favorecendo sobretudo as pequenas empresas, que segundo ele geram 84% dos empregos do país, tendo aberto 330 mil vagas este ano. O estímulo ao crescimento econômico resultante aumentaria a arrecadação. Além disso, “é preciso controlar os gastos, voltar à rigidez fiscal dos anos 90, que foi obtida graças a um esforço bipartidário”, disse Holtz-Eakin, sob o olhar irônico de Goolsbee.

Os democratas atribuem o equilíbrio fiscal dos anos 90 à política econômica do ex-presidente democrata Bill Clinton, e culpam o presidente republicano George W. Bush pela explosão do déficit público, com a combinação de cortes de impostos e aumento dos gastos, sobretudo militares. No ano fiscal encerrado em setembro, o déficit foi de US$ 700 bilhões – 50% a mais que no ano anterior, e 5% do Produto Interno Bruto.

O economista republicano, ex-assessor da Comissão de Orçamento do Congresso, negou que o programa de McCain diminua os impostos só dos ricos. Ao responder uma pergunta sobre o aumento da desigualdade nos Estados Unidos, no entanto, ele contestou a tese de que ela esteja relacionada com o sistema tributário. “É uma tendência dos anos 80 que atravessou os anos 90, e suas principais causas são a baixa qualidade da educação e o alto custo do atendimento à saúde.”

Quanto à educação, há uma concordância entre republicanos e democratas. Segundo Goolsbee, os Estados Unidos são o 13º em porcentagem de adolescentes matriculados no ensino médio. Situa-se entre a Bulgária e a Costa Rica. “Daqui a 20 anos, terá um nível de renda entre a Bulgária e a Costa Rica.”

Os dois discordam, no entanto, sobre como resolver a crise do setor imobiliário, que desencadeou a atual crise financeira e econômica. Holt-Eakin reafirmou a proposta de McCain de ajudar os inadimplentes a pagar suas hipotecas, para mantê-los em suas casas e conter o declínio de muitos bairros. “Isso é premiar os credores mais irresponsáveis, incluindo os que fraudaram a avaliação das casas”, criticou Goolsbee. Os democratas defendem a injeção de recursos em troca de participação nos bancos, adotada pelo governo Bush por pressão do Congresso, depois de certa relutância. Em contrapartida, querem mais controle sobre as instituições financeiras: “Pedir mais regulação não é ser contra o mercado”, argumentou Goolsbee, lembrando que Obama defendeu essa tese há um ano num discurso na Nasdaq, a bolsa de valores das empresas de alta tecnologia.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*