Democratas apostam em valores como arma

Em vez de atacar Bush, partido prefere valorizar trajetória de Obama

DENVER, EUA – Os democratas se defenderam ontem das críticas por não terem confrontado as suas propostas com as políticas adotadas pelo governo de George Bush e com a plataforma do candidato republicano John McCain. Segundo eles, os discursos centrados na trajetória pessoal de seu candidato, Barack Obama, exprimem os valores que deverão decidir essa eleição.

O primeiro dia da convenção democrata em Denver, na segunda-feira, foi dominado por dois discursos em tom extremamente pessoal e emotivo, do senador Ted Kennedy, que sofre de tumor cerebral, e de Michelle Obama, mulher do candidato. Os outros discursos também foram em geral testemunhos acerca de Obama, com quase nenhuma menção à plataforma democrata ou críticas aos republicanos.

“As duas coisas que aconteceram ontem (segunda-feira) à noite foram muito importantes”, disse ao Estado o governador da Pensilvânia, Ed Rendell, que apoiou a senadora Hillary Clinton durante as primárias, e agora está engajado na campanha de Obama. “O tributo ao senador Kennedy não foi só uma coisa bonita. Foi um lembrete ao povo americano de que democratas como ele têm lutado por décadas para lhes trazer coisas como um serviço de saúde acessível.”

“Foi uma lembrança da diferença entre os dois partidos”, continuou Rendell, que garante que a Pensilvânia, considerada um Estado sob acirrada disputa entre democratas e republicanos, dará vitória de 3 a 4 pontos porcentuais a Obama. “As pessoas votam para presidente não tanto por causa de propostas, mas pelo que sentem a respeito dos candidatos”, analisou o governador. “E a esposa e a família do candidato são muito importantes nisso.”

Segundo Rendell, “Michelle Obama tinha sido uma espécie de mistério e quase motivo de medo para alguns americanos, porque é uma profissional e uma mulher tão forte”. O governador aposta: “Particularmente as mulheres se identificaram com ela. Ela mostrou que os valores da família Obama são os mesmos da família Rendell ou Smith. Haverá tempo suficiente para mostrar as diferenças de propostas entre McCain e Obama.” Sobre a suposta dificuldade dos democratas de fazer “campanha negativa”, que teria prejudicado o candidato John Kerry em 2004, Rendell estocou: “Os republicanos é que parecem não ter nenhum problema em fazer isso.”

“Sugiro a esses analistas que assistam os quatro dias da convenção”, desafiou o estrategista político Joe Lockhart, ex-secretário de imprensa do ex-presidente Bill Clinton, respondendo a uma pergunta do Estado em entrevista coletiva. “Ontem foi muito importante ouvir Michelle Obama, ver como ela compartilha os valores de milhões de americanos”, defendeu Lockhart.

“Ao final dessa convenção, você terá visto muitas propostas apresentadas por democratas pelo próprio Obama, e como elas diferem substancialmente das políticas do governo Bush”, antecipou Lockhart, incluindo aí os discursos de ontem à noite de Hillary e desta noite de Bill Clinton. “Você ouvirá que McCain é muito parecido com Bush em termos de política econômica e segurança nacional.” Mas o estrategista democrata ressalvou: “Os que esperam discursos histéricos ficarão desapontados.”

“Quem vai decidir essa eleição são as mulheres, e elas não gostam de campanhas de ódio”, justificou Alice Garmond, secretária da convenção democrata. “Se nossas irmãs, nossas vizinhas forem afastadas pelo tom da campanha, não irão votar, e precisamos que elas compareçam para eleger Obama”, disse ela, durante um encontro com cerca de 700 mulheres democratas no Centro de Convenções do Colorado, em Denver.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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