Milhares de americanos esperam horas na fila para escolher entre Obama e McCain
PALM BEACH – Numa eleição que por vários motivos já era considerada histórica, os eleitores americanos foram em massa ontem às urnas, no que pode ter sido o maior comparecimento em um século. Muito antes de as seções eleitorais serem abertas, às 6h ou às 7h locais, dependendo do Estado, dezenas e até centenas de eleitores já esperavam na fila, para votar antes de ir para o trabalho. Em alguns lugares, a espera para votar chegou a sete horas.
Muitos trabalhavam ontem com um colante dizendo “Eu já votei”. No decorrer do dia, que não foi feriado, as filas diminuíram em muitas seções eleitorais (noutras, continuaram longas o dia todo). Mas voltaram a crescer no fim da tarde. As seções fechariam às 18h ou 19h, mas a previsão era de que em muitos lugares a votação continuaria, enquanto houvesse eleitores nas filas.
De acordo com a Brookings Institution, 64,3% dos 213 milhões de cidadãos americanos com idade de votar deveriam comparecer ontem, ou 137 milhões de pessoas. Em números absolutos, seria o maior comparecimento da história; como porcentagem, seria superado apenas pela eleição de 1908, quando foi de 65,4%.
Em alguns Estados, as previsões eram de índices ainda mais altos. Na Flórida, onde o comparecimento é historicamente alto, o governo previu que este ano quebraria o recorde de 1992 – 83%. Na Pensilvânia, poderia chegar a 80%, também um recorde. Ambos os Estados foram objeto de intensa campanha dos candidatos Barrack Obama e John McCain, na disputa pelos 270 votos necessários para se eleger presidente no colégio eleitoral de 538. Na maioria dos Estados, o vencedor leva todos os votos no colégio, cujo número é proporcional à população.
Apesar dos investimentos de mais de US$ 3 bilhões desde o fiasco de 2000, o problemático – e complexo – sistema de votação americano continuou gerando muitos problemas este ano.
Na Flórida, a cédula tinha duas páginas, que incluíam um referendo na Constituição do Estado, além das eleições para a Câmara dos Deputados e o Senado federais e uma série de cargos locais. Se os eleitores, que não eram obrigados a votar em tudo, não preenchessem a segunda página, o scanner travava. O computador tinha que ser reiniciado, aumentando a demora nas filas. A Flórida deu a vitória em 2000 ao presidente George W. Bush por 537 votos, depois de duas recontagens e uma decisão por 5 a 4 na Corte Suprema.
Em Palm Beach, um dos três condados onde o resultado foi contestado em 2000, as famosas perfuradoras de cartões foram substituídas por um scanner, que lê as cédulas de papel nas quais os leitores preenchem a caneta o espaço entre duas extremidades de uma flecha apontada para o seu candidato. As urnas eletrônicas, usadas no condado em 2004, não agradaram, porque elas não imprimem comprovantes, impossibilitando recontagem manual.
Na Virgínia, a chuva teve um efeito inesperado. Alguns eleitores chegaram com as mãos molhadas e umedeceram as cédulas, causando defeito nos scanners. Os eleitores também se queixaram de terem encontrado urnas eletrônicas e scanners com defeito. Na Filadélfia, várias urnas eletrônicas não estavam funcionando por falta de fios de extensão para conectá-las às tomadas elétricas.
Nas eleições para a Câmara e o Senado em 2006, 37,6% das urnas eram eletrônicas. Mas o sistema foi rejeitado em muitos lugares, e essa porcentagem caiu para 32,6% este ano, segundo a empresa Serviços de Dados Eleitorais, de Washington.
Houve muitas queixas também de eleitores que não puderam votar por problemas de identificação, como nomes com erros ortográficos no registro eleitoral ou discrepâncias entre o endereço registrado e o que consta na carteira de motorista.
Na Flórida, a preocupação era com eleitores que, apesar de mortos, continuavam aparecendo nas listas como aptos a votar.
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