Em Miami, brasileiros por Hillary

OS BRASILEIROS EDUARDO E SABRINA: ele é professor de jiu jitsu; ela funcionário do Marriott; os dois votam em Hillary/ Lourival Sant’Anna

Lourival Sant’Anna, de Miami

Quando a saudade aperta, os brasileiros que moram em Miami e arredores vêm para o Boteco. Nesse restaurante brasileiro (que na verdade pertence a um italiano), em meio a feijoada, caipirinha, coxinhas e guaraná, havia na tarde de domingo quatro brasileiros que votaram nessas eleições. E, no Boteco, já deu Hillary Clinton. Ainda que mais por rejeição a Donald Trump, e com as críticas que muitos americanos fazem a ela.

“Na verdade, acho a Hillary a menos pior”, disse Flávia Vieira, de 37 anos, de Divinópolis (MG), que trabalha em uma empresa brasileira em Miami, importadora de produtos para cabelos. “A sensação que eu tenho é que o Trump é muito racista. Como imigrante e como mulher, eu me sinto ofendida por todas as coisas que ele tem falado até agora. Acho que por mais que a Hillary também não seja a candidata perfeita, que ela cometeu muitos erros, a questão dos emails, de outras decisões que ela tomou, acho que ela tem mais diplomacia e mais jogo de cintura para lidar com uma posição de liderança, como a de ser presidente dos Estados Unidos.”

Flávia vive em Miami há seis anos. Na eleição passada, votou no presidente Barack Obama. “Gosto bastante dele. Acho que ele tem uma empatia. Apesar que quem é americano mesmo acha que ele não fez muita coisa, eu acho que ele não fez porque o próprio Congresso, que é republicano, não o deixou fazer”, justifica ela. “Eu ainda acredito muito nos democratas.”

“O Trump é um magalomaníaco que vai incitar mais ódio, principalmente contra os imigrantes”, rejeita a fisioterapeuta Luciana Lopes, de 44 anos, de Londrina (PR). “Tem umas ideias muito tacanhas, muito escusas. Eu gosto da Hillary e do trabalho dela, apesar de que também não sou confiante. Para ser sincera para você, acho que está difícil a escolha. Acho que por falta de melhor opção as pessoas vão acabar votando na Hillary. Por toda a história que ela e o partido trazem.”

Há 13 anos nos Estados Unidos, Luciana também votou em Obama. “Gostei bastante do governo dele.” Mas não aprova o Obamacare, a principal política do presidente para o setor dela, a saúde. ““Estou pesquisando para me filiar ao Obamacare, e é ruim. As empresas do setor passaram a pagar menos e os profissionais de saúde, a trabalhar mais — como no Brasil”, diz Luciana. “E se você quer fazer um plano de saúde, a menos que seja muito pobre, acaba pagando muito, mensalmente, tendo uma franquia absurdamente alta, não pode na verdade executar o plano, como pessoa física, e acaba ficando com menos benefícios. Então, para os dois lados ficou muito difícil.” O aumento da demanda causado pela obrigatoriedade de aderir a um plano provocou aumento médio de 22% nos seguros.

O professor de jiu-jitsu Eduardo Barreto também tem críticas ao Obamacare. Ele considera que a imposição do plano de saúde foi prejudicial às empresas pequenas, como a em que ele trabalha, que tem 15 funcionários. “Antigamente, os empregados pagavam pelo seguro de saúde deles. Agora, quase duplicou o custo. Esse excedente é bancado pela empresa”, observa Eduardo. “Empresas pequenas não têm muitas opções de planos de saúde, como têm as grandes.” Ele diz que sua empresa pagava 370 dólares por mês de seguro médico dos empregados. Com o plano do Obama, aumentou para quase 700 dólares.

Além disso, Eduardo, um carioca de 42 anos, que vive desde 1988 nos EUA, foi fuzileiro naval e, como muitos militares, identifica-se mais com os republicanos. Na eleição passada, por exemplo, votou no adversário de Obama, Mitt Romney. Mesmo assim, Eduardo votou agora em Hillary. “Entre as duas opções, ela é a menos má escolha. Acho as ideias do Trump meio extremistas demais, muito para o lado da direita”, diz o professor de artes marciais. “As propostas da Hillary pelo menos são conservadoras.”

Sua mulher Sabrina, de 42 anos, também votou em Hillary: “Você não sabe o que esperar do Trump. Pode ter algumas ideias boas, mas como um todo não dá para confiar nele”. Sabrina, que trabalha na área de recursos humanos da rede de hotéis Marriott, diz que a economia “está começando a melhorar aos poucos”. “Tivemos um desemprego muito grande há três, quatro anos, e agora a empresa em que trabalho está contratando”, conta Sabrina, nos EUA desde 1999.

Para Hillary, quem dera os Estados Unidos fossem um grande Boteco.

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