Entre ilegais, que não podem participar, maioria diz que escolheria o presidente Obama
LAS VEGAS, NEVADA – Crystal Shanne, uma negra de 23 anos, pertence aos 47% dos americanos que, na descrição feita por Mitt Romney em um jantar de arrecadação de fundos em maio, “não paga impostos, vive às custas do Estado” e fatalmente não votará nele. De fato. Mas também não votará em Barack Obama. Não porque não queira, mas porque não pode votar. Shanne cometeu um crime e, embora trabalhe como faxineira em um cassino, ainda não terminou de cumprir sua sentença, sob liberdade condicional.
“Eu votaria em Obama”, disse Shanne, enquanto esperava um ônibus para o trabalho na periferia norte de Las Vegas. “Apenas gosto dele” continuou a moça, que nunca votou. “Não gosto de Romney. Ele não é para os pobres, mas para os ricos.” Um rapaz negro que aguardava em outro ponto de ônibus a poucos metros dali também disse que não poderia votar por ter cometido um crime.
Essa é uma das várias categorias de potenciais eleitores de Obama que, justamente pela vulnerabilidade que os levariam a votar nele, não votam. Outro contingente, bem mais significativo, é o dos imigrantes que estão ilegalmente no país ou que não são residentes há tempo suficiente para obter a cidadania. “Eu votaria em Obama, mas sou ‘mojarrita”, disse um mexicano voltando de bicicleta do trabalho. Na gíria, o diminutivo de ‘mojarra’, ou tilápia, designa quem cruzou ilegalmente a vigiada fronteira com o México.
De acordo com David Damore, cientista político da Universidade de Nevada, os latinos representam 22% da população do Estado, mas os que votam são de 15% a 16%. O repórter do Estado abordou dezenas de latinos que repetiram a mesma frase, com pequenas variações: “Não sou cidadão, mas se pudesse votaria em Obama.”
Não só latinos. Há uma crescente população de origem asiática, sobretudo das Filipinas e do Havaí, aponta Damore, que tende a votar mais nos democratas. Bon Dizon, de 51 anos, veio das Filipinas há 5 e portanto já poderia solicitar a cidadania. O problema, diz ele, é o preço: US$ 680. “Apesar de que Obama já me deu US$ 700”, recordou ele, referindo-se aos cheques distribuídos no início de seu governo como parte das medidas para reativar a economia. “Obama é um bom homem”, elogia Dizon, que faz manutenção de câmeras de circuito interno e cancelas. “Quatro anos não são suficientes. Ele precisa de outra chance.”
Ainda dentro desse potencial eleitorado de Obama, há uma camada que, de tão marginalizada, vê o governo apenas como provedor de comida e moradia, e não como algo que possa ser mantido ou mudado pelo seu voto. O repórter entrou em uma comunidade móvel, como são chamados os conjuntos habitacionais formados por trailers – o que mais se aproxima de uma favela americana – em Bradenton, costa oeste da Flórida. Andou de trailer em trailer, à procura de alguém que fosse votar. Não encontrou ninguém.