Após agressivo discurso de vice na chapa de McCain, democrata acusa republicanos de não ter plataforma
SAINT-PAUL, EUA – O candidato democrata à presidência dos EUA, Barack Obama, e seus porta-vozes reagiram ontem vigorosamente ao discurso de nomeação da candidata a vice na chapa republicana, Sarah Palin. As múltiplas respostas ao longo do dia serviram para sublinhar o impacto da entrada de Sarah na campanha, na sexta-feira, e de seu discurso de anteontem à noite.
“Eles não têm uma plataforma a seguir”, criticou Obama, respondendo a uma pergunta sobre se tinha ficado surpreso com os ataques que recebeu de Sarah. “Em duas noites, não ofereceram uma só idéia concreta sobre como vão melhorar as vidas dos americanos de classe média”, continuou o candidato democrata, falando a repórteres em York, Pensilvânia. “A idéia de que qualquer pergunta sobre seu trabalho no Alasca é de alguma maneira irrelevante para seu futuro como vice-presidente dos Estados Unidos não faz muito sentido para mim”, acrescentou Obama, de 47 anos, senador em primeiro mandato, ele próprio criticado pela falta de experiência.
A governadora do Alasca comparou a sua experiência de ex-prefeita de Wasilla, uma cidade de 7 mil habitantes, com o currículo de Obama, líder de uma comunidade pobre em Chicago antes de se tornar senador estadual e depois federal. “Acho que ser prefeito de uma pequena cidade é mais ou menos como ser um ‘organizador comunitário’, a não ser pelo fato de que você tem responsabilidades reais”, provocou Sarah.
“Tanto (o ex-prefeito de Nova York) Rudy Giuliani quando Sarah Palin ridicularizaram a experiência de organizador comunitário de Barack”, queixou-se David Plouffe, gerente da campanha de Obama. “A organização de comunidades é como pessoas comuns respondem a políticos fora de contato com a realidade e a suas políticas fracassadas.”
Sarah atacou ainda, no seu discurso: “Em pequenas cidades, não sabemos o que fazer com um candidato que se derrama em elogios aos trabalhadores quando eles estão ouvindo, e depois fala de como eles se agarram amargamente a sua religião e às armas quando essas pessoas não estão ouvindo.” Foi uma referência a uma das gafes de Obama nessa campanha, durante uma reunião na Califórnia, em que ele tentou estabelecer uma relação entre problemas econômicos e conservadorismo social.
“Depois do que Palin fez ontem (quarta-feira), agora há uma disputa entre Obama e McCain”, avaliou Tom Delay, ex-líder republicano na Câmara dos Deputados. “Ela é real. É isso que é tão maravilhoso nela.” O marido de Sarah, Todd Palin, que trabalha como petroleiro, ganhou US$ 49 mil no ano passado – um salário baixo para os padrões americanos. Com cinco filhos, Sarah se define como uma mãe comum.
“Ela uniu a convenção”, constatou o conservador Rush Limbaugh, âncora de um popular programa de rádio. “Há 40 anos eu não via a base republicana tão unida”, entusiasmou-se Limbaugh, em entrevista a à rede de TV Fox News. “Obama e (o candidato democrata a vice Joe) Biden têm muito trabalho pela frente. O apelo dela é muito forte, porque ela é uma mulher comum capaz de atacá-los.” À pergunta sobre o “populismo” de Sarah, o radialista admitiu: “Há populismo nela, mas ela trata das preocupações dos americanos.”
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