Se Barack Obama for eleito presidente, os Estados Unidos deverão dar uma guinada radical em sua política externa em geral e para o Oriente Médio em particular.
DENVER – Um eventual governo democrata vai lançar negociações com o Irã e a Síria, integrantes do “eixo do mal” enunciado pelo presidente George Bush, e abraçar o multilateralismo, valorizando instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Foi o que disseram ontem assessores de Obama num debate sobre a região.
“A Síria é líder no mundo árabe”, salientou Gregory Craig, assessor de segurança nacional da campanha de Obama. “Os sírios deveriam estar aqui, e não lá. Devemos mostrar a eles que devem mudar de atitude.” O senador John Kerry, candidato democrata a presidente em 2004 e membro do Comitê de Relações Exteriores do Senado há 24 anos, disse que se reuniu duas vezes com o presidente sírio, Bashir Assad, nos últimos dois anos, “contra a vontade do atual governo”, e que os sírios, sob influência da Turquia, mostram-se interessados em negociar com Israel. “Os Estados Unidos estão estranhamente ausentes disso.”
A rejeição por princípio do governo Bush de qualquer aproximação com a Síria foi ilustrada por um testemunho do ex-ministro alemão das Relações Exteriores Joschka Fischer, que também participou do debate, promovido pela New American Foundation. Fischer contou que esteve com o então primeiro-ministro israelense Ariel Sharon quatro dias antes do derrame cerebral que o deixou em coma, em janeiro de 2006, e perguntou-lhe por que não negociava com a Síria. “Não estou autorizado”, disse Sharon sorrindo.
Os democratas acham que a estabilidade do Iraque – no contexto da retirada das tropas americanas, prometida por Obama – pode ser um interesse comum como ponto de partida de negociações tanto com a Síria quanto com o Irã. “Se começássemos com a questão nuclear, seria um desastre”, disse Craig. “Os iranianos se interessariam em maximizar a estabilidade do Iraque nessa transição (iniciada com a eventual retirada americana).”
O ex-deputado Mel Levine, assessor de Obama para Oriente Médio, descartou a possibilidade de negociações com o grupo islâmico Hamas, que governa a Faixa de Gaza. “Há uma guerra entre o Fatah e o Hamas, e estamos do lado do Fatah”, disse ele, referindo-se à facção moderada que governa a Cisjordânia. Levine garantiu que Obama, com seu “comprometimento com a segurança de Israel”, conseguiu superar as resistências dos israelenses em relação a ele causadas por suas declarações de que “os palestinos nunca sofreram tanto” e em favor de negociações com o Irã.
Levine recomenda que o próximo presidente nomeie imediatamente um enviado especial para mediar o conflito árabe-israelense e promova uma reunião de países doadores para levantar “bilhões de dólares” para melhorar a situação dos palestinos nos territórios. A solução final, ressaltou ele, é a criação de um Estado palestino.
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