Para especialistas, racismo oculto pode causar distorções em pesquisas de intenção de voto
COLUMBUS, EUA – As duas conspirações flagradas pelo FBI de grupos supremacistas brancos para matar Barack Obama representaram, na prática, risco nulo para a segurança do senador democrata. Mas revelam, de forma extrema, a animosidade de muitos americanos diante da possibilidade real, pela primeira vez na história do país, de se eleger um presidente negro. O assunto é tabu. Dificilmente um eleitor admite, na presença de estranhos, que deixará de votar em Obama por ele ser negro. Mas as pesquisas sugerem que, se não fosse por sua cor, Obama talvez tivesse ainda mais chances de derrotar o seu rival republicano, o senador John McCain.
O FBI informou na segunda-feira ter prendido no Tennessee dois homens brancos que planejavam matar 88 negros, antes de disparar contra Obama, de dentro de um carro, vestidos com capuzes e túnicas brancos, como os usados no passado pelo grupo racista Ku Klux Klan. Eles portavam duas pistolas e dois fuzis. Em agosto, durante a convenção democrata em Denver (Colorado), três homens brancos também foram presos com dois fuzis com mira telescópica, 80 balas, um colete à prova de balas, walkie-talkies e dezenas de gramas de metanfetamina. Eles disseram que planejavam matar Obama porque eram contra a eleição de um negro para a presidência.
A integridade física de Obama, fortemente protegido pelo serviço secreto americano, pode não correr risco, mas a sua eleição, sim, mesmo com a vantagem de que ele usufrui nas urnas. “A raça de Obama certamente o prejudica”, diz o cientista político Harwood McClerking, especialista em eleições da Universidade do Estado de Ohio em Columbus (capital). “As pessoas não falam disso porque o racismo não é socialmente aceito”, diz McClerking, que é negro. “Mas ao mesmo tempo levam a raça em consideração, ao tomar suas decisões. Justificam dizendo que um político negro é liberal demais ou incompetente.”
A resistência em admitir em público o preconceito pode distorcer os resultados das sondagens. O caso clássico, freqüentemente citado nessa campanha, é o do democrata negro Tom Bradley, candidato a governador da Califórnia em 1982, que perdeu a eleição apesar de estar na frente nas pesquisas.
Sondagem feita para The New York Times e CBS entre os dias 19 e 22 mostra que Obama tem mais apoio entre os brancos (45%) do que o candidato democrata em 2004, o branco John Kerry (41%). Entre os negros, o apoio é praticamente o mesmo: 88% votaram em Kerry e 89% dizem que votarão em Obama. Mas em geral Obama tem mais apoio do que teve Kerry.
Outro levantamento, realizado pela Universidade Stanford em todo o país entre 27 de agosto de 5 de setembro, mostrou, com base em modelos estatísticos, que Obama teria 6 pontos porcentuais a mais nas intenções de voto se não fosse pelo racismo dos eleitores brancos. Ou seja, ele dobraria sua vantagem atual sobre McCain.
Segundo a sondagem, 70% dos democratas apóiam o candidato negro, enquanto 85% dos republicanos votarão por McCain. Pesquisas de boca-de-urna com delegados democratas durante as primárias mostraram que 55% dos brancos votaram na senadora Hillary Clinton e 39%, em Obama. Entre os delegados latinos, Hillary venceu por 58% a 39%; entre os asiáticos, por 71% a 25%. Em compensação, 82% dos negros votaram em Obama e 16%, em Hillary. Mas os negros representam apenas 13% da população americana.
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