O candidato republicano Donald Trump garantiu na manhã deste sábado que não vai renunciar à disputa presidencial, depois da divulgação de um vídeo no qual ele se vangloria, com palavrões, da sua capacidade de seduzir e fazer sexo com mulheres bonitas, graças a sua condição de “estrela”. Alguns líderes republicanos exigem que ele renuncie, outros que faça um pedido de desculpas inequívoco — o que o empresário nunca fez, em deslizes anteriores. Em lugar disso, Trump contra-atacou, dizendo que o marido de sua adversária, o ex-presidente Bill Clinton, já lhe disse “coisas bem piores num campo de golfe”. Ele ameaçou contra-atacar o casal, no debate deste domingo com Hillary Clinton.
“Eu nunca me retiraria”, assegurou Trump ao jornal The Washington Post, o mesmo que divulgou o vídeo, na sexta-feira. “Eu nunca me retirei na minha vida. Tenho apoio tremendo.” Ele afirmou que as pessoas estavam telefonando para lhe dizer: “Nem pense em fazer qualquer outra coisa a não ser concorrer”. O candidato admitiu não saber como essa questão evoluirá, mas salientou que as pessoas “não fazem ideia” do quanto o apoio a ele é grande.
A gravação do vídeo ocorreu em 2005, durante a filmagem de um episódio do programa “Access Hollywood.” Sem saber que estava sendo gravado, Trump disse: “Quando você é uma estrela, elas deixam você fazer… agarrá-las pela buceta. Você pode fazer qualquer coisa”. Em outra passagem, ele coloca balinhas Tic Tac na boca antes de se encontrar com uma atriz de novela e explica: “No caso de eu começar a beijá-la. Você sabe, sou automaticamente atraído pela beleza — começo a beijá-las. É como um ímã. Já vou beijando. Não espero nada”.
Na primeira reação à divulgação do vídeo, Trump minimizou a história, dizendo que se tratava de “papo de vestiário, uma conversa privada que aconteceu há muitos anos”. Mas pediu desculpas “se alguém foi ofendido”. Mais tarde, na madrugada de sexta para sábado, divulgou um vídeo reconhecendo que o que fez foi “errado” e pedindo desculpas. Mas também se defendeu dizendo que a história era uma “distração” dos temas importantes da campanha, e garantindo que Bill Clinton já lhe disse coisas piores. “Discutiremos mais isso nos próximos dias”, antecipou ele. “Vejo vocês no debate de domingo.”
O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Paul Ryan, retirou o convite que havia feito a Trump para um evento de campanha na noite deste sábado, em seu Estado, Wisconsin. Ryan, que relutara muito em apoiar a candidatura de Trump, cedendo só depois da convenção do partido em julho, disse que estava “enauseado” com o que tinha ouvido. “Espero que o sr. Trump trate essa situação com a seriedade que ela merece e se esforce em demonstrar ao país que ele tem mais respeito pelas mulheres do que esse vídeo sugere”, pediu o deputado.
Trump já sofria forte rejeição das mulheres, por causa de atitudes consideradas machistas, como quando atribuiu uma pergunta crítica que a âncora Megyn Kelly, da Fox News, lhe fez durante debate com outros pré-candidatos republicanos ao fato de ela estar “menstruada”, ou ao não ver nada de errado em seus comentários a respeito da ex-Miss Universo venezuelana Alicia Machado, que chamou de “Senhorita Porquinha”, por ter ganhado peso, e de “Miss Faxineira”, em referência a sua origem latina. Hillary explorou esse segundo episódio no primeiro debate, dia 25. Alicia, hoje atriz de novela, conta ter sofrido distúrbios alimentares por causa da humilhação. Ela obteve cidadania americana e faz campanha para a democrata.
Os congressistas republicanos, que disputam a reeleição dentro de um mês, preocupam-se com o impacto dessa impopularidade com as mulheres não só na disputa presidencial, mas sobre sua própria elegibilidade. Afinal, estamos falando de 51% do eleitorado, em uma disputada com a primeira candidata democrata mulher.
“Trump precisa pedir desculpas diretamente às mulheres e meninas em todos os lugares, e assumir total responsabilidade pela completa falta de respeito mostrada em seus comentários gravados”, exigiu o líder republicano no Senado, Mitch McConnell. “Não há absolutamente espaço para esse tipo de conduta ou linguagem em nossa sociedade”, condenou Kevin McCarthy, líder republicano na Câmara.
A deputada republicana Martha Roby, do Alabama, anunciou que não votará em Trump, e exigiu que ele renuncie. “Embora eu estivesse desapontada com seu jeito antiquado durante a campanha, pensei que apoiar o vencedor das primárias seria o melhor para nosso país e nosso partido”, disse a deputada, em uma nota. “Agora, está abundantemente claro que o melhor para nosso país e nosso partido é Trump se retirar e permitir que um republicano responsável, respeitável lidere a chapa.”
Pelas normas do partido, a direção não pode destituir um vencedor das primárias. Caberia ao candidato renunciar. Foi o que pediram também os senadores Mike Lee, de Utah, e Mark Kirk, de Illinois, assim como os ex-candidatos presidenciais George Pataki, Jon Huntsman e Carly Fiorina, segundo o Washington Post. A senadora Kelly Ayotte, de New Hampshire, informou pelo Twitter que votará em Mike Pence, o vice na chapa republicana. Outros congressistas e dirigentes republicanos também defendem a troca de Trump por Pence, que é governador de Indiana.
O escândalo deixa os dirigentes republicanos ainda mais preocupados com as consequências da candidatura Trump para o partido. O empresário derrotou nas primárias importantes líderes da legenda, com uma campanha que vai contra posições republicanas tradicionais , como a defesa do livre comércio. De maneira que, vencendo ou perdendo a eleição, insistindo ou desistindo, Trump já causou uma derrota: a de seu partido.
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