Trump resiste no primeiro lugar

Seu perfil de “outsider” atrai republicanos fartos de Washington, mas Hillary Clinton o derrotaria

Depois do debate de quinta-feira, o empresário Donald Trump continua na liderança das pesquisas entre os 17 pré-candidatos republicanos à presidência dos Estados Unidos. Segundo pesquisa do Instituto Ipsos para a agência de notícias Reuters, feita com 278 eleitores republicanos (margem de erro de 6,7 pontos percentuais), Trump continua com os mesmos 24% de antes do debate na emissora de TV Fox News. Já o seu principal rival, o ex-governador da Flórida Jeb Bush, caiu de 17% para 12%.

O êxito de Trump é uma mescla de vários fatores. Em primeiro lugar, ele foi o centro do debate, e dos comentários feitos por analistas antes e depois do programa. Bombardeado de críticas dos seus adversários, acabou dominando a cena. Além disso, suas posições politicamente incorretas, ultraconservadoras e preconceituosas aglutinam uma fatia do eleitorado masculino, branco, com baixa instrução – “blue collar”, como se diz nos Estados Unidos -, que se sente ludibriado pela classe política em Washington. Seu perfil de empresário bem-sucedido e o fato de não ter se comprometido a apoiar qualquer candidato escolhido nas primárias republicanas reforçam o seu apelo perante esses eleitores fartos da corruptibilidade dos políticos pelos influentes lobbies.

Esses ativos não são suficientes para vencer uma eleição presidencial nos Estados Unidos.

Ao contrário, uma confirmação da candidatura de Trump pelo Partido Republicano provavelmente facilitaria uma nova vitória democrata. Nenhum aspirante republicano é páreo, hoje, para a provável candidata democrata, Hillary Clinton. Segundo a mesma pesquisa, a ex-primeira-dama e secretária de Estado derrotaria Trump por 43% a 29%. Mas os outros candidatos com mais chances perderiam por margens semelhantes.

O fenômeno Trump é um aparente prenúncio das dificuldades do Partido Republicano de construir uma alternativa de governo com credibilidade. Com maioria nas duas Casas do Congresso, a força do partido parece residir mais na capacidade de criticar e de canalizar as frustrações e desconfianças dos americanos do que de apresentar um programa sólido e minimamente consensual. Mas muita coisa ainda pode acontecer até as eleições de novembro de 2016.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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