Presença de Obama na Casa Branca criou nos negros expectativas não atendidas e animosidade entre ultraconservadores
A violência voltou a Ferguson no primeiro aniversário da morte de um adolescente negro por um policial branco. As autoridades do condado de St. Louis, onde fica a cidade, no Estado americano do Missouri, decretaram estado de emergência. Policiais à paisana abriram fogo na noite deste domingo contra um grupo de rapazes que segundo eles haviam disparado em sua direção. Um rapaz de 18 anos ficou gravemente ferido e foi indiciado pelo suposto ataque.
O incidente serviu de combustível para os confrontos com a polícia, que começaram na noite deste domingo e devem continuar nesta noite. Manifestantes que bloquearam a entrada de um tribunal federal foram detidos. Houve saques no comércio, repetindo as cenas de um ano atrás. Organizadores dos protestos declararam esta segunda-feira dia de desobediência civil.
Em vários Estados americanos, denúncias de abusos de policiais brancos contra negros desarmados têm criado uma onda de tensão racial que não se via por muitos anos.
Ironicamente, a eleição e reeleição do primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos não servem para aplacar as tensões. Pelo contrário. A ascensão de Obama criou expectativas nos negros, muitas delas não atendidas, elevando a sua frustração e revolta.
De outro lado, a presença de um democrata negro na Casa Branca, que tem conduzido políticas consideradas ultra-liberais (o que nos Estados Unidos significa de esquerda, ou “progressista”, como se diz no Brasil), fomenta a animosidade de grupos conservadores. Principalmente no Sul e no Centro dos Estados Unidos, onde se situa o Missouri, esse sentimento é agravado por preconceitos raciais.
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