Alex é vizinho de John McCain no bairro de classe alta de Biltmore, em Phoenix, Arizona. Alex não vai votar em McCain.
PHOENIX – “Precisamos de alguém que cumpra suas promessas, que dê jeito na economia imediatamente, não que encontre a solução, porque um homem só não dá conta de resolver todos os problemas”, explica Alex, um personal trainer de 35 anos que prefere não revelar seu sobrenome nem se deixa fotografar. “Barrack Obama me parece um homem sincero, que quer ajudar a economia e as pessoas comuns. Se ele cumprir o que promete, o mundo será um lugar melhor.”
O fato de McCain não conseguir conquistar o voto nem de seu vizinho não tem nenhuma importância eleitoral, no universo de 130 milhões de eleitores americanos. Mas é uma metáfora das dificuldades que o senador republicano enfrenta nesta corrida presidencial. Nem mesmo no seu Estado, Arizona, as coisas andam fáceis para ele. Sua vantagem sobre Obama vem encolhendo a cada pesquisa. Em 11 de setembro, McCain batia Obama no Arizona por 56% a 39%; no dia 29, a vantagem caíra para 59% a 38%. Neste mês, ela continuou se estreitando: no dia 26 já estava em 51% a 46% e no dia 28, 48% a 44%. Em 2004, o presidente George Bush derrotou facilmente o democrata John Kerry no Arizona, por 55% a 44%. Isso não é tudo. O Arizona tem oito cadeiras na Câmara dos Deputados. Hoje, quatro são de republicanos e quatro de democratas. Nessas eleições, têm boas chances de ficar com cinco.
“O fato de McCain ser do Arizona não implica necessariamente que ele tenha mais apoio aqui”, explica o cientista político John Garcia, especialista em eleições da Universidade do Arizona em Tucson. “Como senador, ele se ausenta muito daqui, tem-se dedicado mais a temas globais e ainda por cima é contra emendas orçamentárias, que são as que trazem estradas e obras para os Estados.”
As razões para o apoio ao candidato democrata são variadas. “Obama tem propostas mais bem articuladas, e todo mundo está cansado de Bush”, diz Mary, uma administradora de empresas de 47 anos, que também pede para não se identificar. “McCain não delineou bem a diferença entre ele e Bush.”
Eric Williams, de 20 anos, trabalha num hotel vizinho ao prédio de luxo onde mora McCain, e também vai votar em Obama. “Acredito que se McCain vencesse o país teria sua reputação internacional completamente destruída”, diz Williams, que estuda de relações internacionais.
“Barack defende a mudança”, continua ele, chamando Obama pelo primeiro nome, como fazem muitos de seus eleitores. “Ele acredita num sistema público de saúde, sem querer socializar completamente a saúde. Ele é altruísta, enquanto McCain é completamente egoísta.”
Além disso, Williams é homossexual. “Barack não defende o casamento entre gays, mas está mais próximo das bandeiras da comunidade gay”, diz Williams, que apoiou Hillary Clinton durante as primárias democratas. “Isso também é importante. Ela o apóia e estará do lado dele.”
A dez quadras dali, Glenn Sharko, um dono de bufê de festas de 35 anos, enfrenta o sol desértico do Arizona de pé numa esquina, segurando cartazes para alertar os eleitores exatamente contra essas bandeiras. “Obama quer promover uma revolução que destruirá a ordem social cristã, com práticas como aborto, pornografia e controle de natalidade”, diz Sharko, um católico militante admirador da entidade brasileira Tradição, Família e Propriedade. “Ele vai encher a Corte Suprema de juízes liberais anticristãos.” Sharko reconhece que as pesquisas não favorecem seu candidato.
“Se McCain vencer, será um milagre, providência de Jesus e da Imaculada Conceição.”
Greg Fish, de 42 anos, dono de uma construtora média, apóia McCain por razões mais mundanas. “Ele apóia a pequena empresa, e não precisamos de mais impostos”, diz Fish, que mora em frente à casa onde McCain morava antes, vendida há dois anos por US$ 4 milhões. “Obama quer aumentar os impostos, diz o que os outros querem ouvir e está à esquerda demais.”
Nem todas as minorias estão alinhadas com Obama. “Prefiro McCain por causa da sua experiência de guerra, porque é mais conhecido no mundo”, afirma Carlo Pablo, um indígena de 28 anos que trabalha numa escola para nativos americanos e votou no democrata John Kerry em 2004. “Alguém que sempre foi fazendeiro não pode ser chefe de cozinha e quem sempre foi repórter não pode se tornar editor-executivo”, exemplifica ele. “Obama não tem experiência para ser presidente.” Mas o sobrenome de Pablo foi grafado errado no cartório eleitoral, como Padlo, e ele não poderá votar. McCain anda mesmo com pouca sorte no Arizona.
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