Decisão evita confronto com manifestantes, que convergem para o centro da Cidade do México
CIDADE DO MÉXICO – Em um recuo para evitar confrontos com manifestantes, o governo transferiu ontem a tradicional cerimônia militar do aniversário da Revolução Mexicana (1910) do Zócalo, a praça central da Cidade do México, para o Campo de Marte, uma pista de equitação vigiada pela Guarda Presidencial. Enquanto centenas de manifestantes caminhavam por vários pontos da cidade, bloqueavam o acesso ao aeroporto e enfrentavam o batalhão de choque da Polícia Federal, o presidente Enrique Peña Nieto pedia “paz e justiça”, na cerimônia de promoções de patente das Forças Armadas.
“O México está dolorido, mas o único caminho para aliviar a dor é a paz e a justiça”, disse o presidente, referindo-se à morte de 3 estudantes e ao desaparecimento de outros 43, no dia 26 de setembro, em um confronto com a Polícia Municipal de Iguala, 200 km ao sul da capital. “Nós, mexicanos, dizemos não à violência”, continuou Peña Nieto, que havia advertido nos últimos dias que o governo não toleraria mais “atos violentos e vandalismo” nos protestos pelos 43 jovens desaparecidos. Ele também manifestou apoio às Forças Armadas e enalteceu o esforço do Exército em esclarecer a denúncia contra sete militares acusados de envolvimento no massacre de 22 supostos criminosos no dia 30 de junho em Tlatlaya, 84 km ao sul da Cidade do México.
Caravanas de manifestantes chegavam ontem à tarde de diversos pontos do país para participar do protesto contra o desaparecimento dos 43 estudantes da Escola Normal de Ayotzinapa, 200 km ao sul da capital. Ao menos dois manifestantes foram presos e dois policiais federais, feridos, em um confronto na Avenida Zaragoza, perto do aeroporto da capital. Cerca de 350 manifestantes bloquearam a Avenida do Circuito Interno, que dá acesso ao aeroporto, colocando na pista duas motos roubadas e um botijão de gás. Dezenas de “granaderos” (integrantes do batalhão de choque) da Polícia Federal impediram que eles avançassem em direção ao aeroporto.
Os manifestantes, a maioria encapuzados, recuaram e se reagruparam na Avenida Zaragoza, de onde atacaram os policiais com pedras, paus, coquetéis molotov e foguetes de artifício. Os policiais responderam com bombas de gás lacrimogêneo. Alguns manifestantes hostilizaram repórteres e tomaram a câmera de um cinegrafista da TV Excelsior.
“Estamos exigindo a aparição com vida dos 43 estudantes desaparecidos de Aytozinapa e também juntando todos os problemas que ocorreram anteriormente, os desaparecidos, as mulheres, as crianças”, disse Juan Pérez, de 25 anos, estudante de ciências sociais da Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM). “Este é um dia emblemático para lembrarmos por que o povo saiu às ruas na época de Porfírio Díaz (ditador militar derrubado pela Revolução Mexicana)”, declarou Edith, conhecida como “Leoa”, de 35 anos, estudante de história também da UACM. “Os privilégios que naquela época eram questionados também o estão sendo agora. Em todo esse período não houve mudança social real para o povo mexicano.”
As manifestações têm o apoio de grupos radicais de esquerda, anarquistas, movimentos estudantis, sindicatos de professores e de outros trabalhadores.
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