PRD faz acordo com as bancadas do governo para participar do rodízio anual na presidência da Câmara
CIDADE DO MÉXICO – O presidente mexicano, Vicente Fox, anunciou ontem que encabeçará as celebrações do Dia da Independência, dentro de uma semana, na Praça da Constituinte, ocupada pelos partidários de Andrés Manuel López Obrador, candidato da oposição que não aceitou a derrota na eleição de 2 de julho. O anúncio foi feito quando cresciam os sinais de que López Obrador está perdendo apoio dentro de suas próprias fileiras, e deve proceder a um recuo tático.
“O presidente não vai ficar em Dolores”, disse Rubén Aguilar, porta-voz de Fox, referindo-se à residência oficial, onde o presidente tem passado a maior parte do tempo, enquanto os oposicionistas ocupam a praça em frente ao palácio do governo, há 40 dias. “Vamos estar no Zócalo (como é conhecida a praça central) para dar o grito na noite do dia 15 e celebrar a independência no dia 16”, assegurou o porta-voz, confirmando o ritual de todos os anos.
Já o porta-voz do líder oposicionista, César Yañes, informou ao Estado que López Obrador anunciará sua decisão de ficar ou desocupar a praça no domingo, às 11h, em uma de suas “assembléias informativas” aos seus simpatizantes. “Até agora, a postura continua a mesma”, disse Yañes, sem querer antecipar qual será a decisão. “Há os que defendem levantar (acampamento) e os que querem continuar.”
A preocupação maior é com um eventual choque entre os oposicionistas e o Exército, que tradicionalmente desce a Avenida da Reforma, uma das principais artérias da capital, atualmente tomada pelas barracas dos manifestantes, até o Zócalo. Os militares iniciaram ontem os preparativos para a parada militar. “Imagino que López Obrador não vai querer um confronto com o Exército”, disse a cientista política Rossana Fuentes Berain, do Instituto Tecnológico Autônomo do México. “Há muitas décadas que o México não tem uma história de choque entre as Forças Armadas e a população civil.”
Num sinal de distanciamento da cruzada de López Obrador contra as instituições, o seu Partido da Revolução Democrática firmou na quinta-feira um acordo com as bancadas do governo pelo qual poderá participar do rodízio anual na presidência da Câmara dos Deputados. Foi aprovada uma reforma no regimento interno reduzindo de 25% para 20% o mínimo de cadeiras para que uma bancada possa exercer a presidência, abrindo caminho para sua participação.
Até então, seguindo a orientação de López Obrador, o PRD se colocava contra a reforma. “Isso foi uma armadilha enorme”, protestou o porta-voz de López Obrador. “Por tradição, já tínhamos direito ao cargo, sem necessidade de acordo.” À pergunta sobre se o acordo aborreceu López Obrador, o porta-voz respondeu: “Não aprovou nem questionou. Não tratamos do assunto.” O PRD, no entanto, deixou o plenário quando a maioria governista aprovou a diplomação do presidente eleito, Felipe Calderón, que venceu López Obrador por uma margem de apenas 233 mil votos (0,56%). Já a Convergencia, um dos três partidos que formam a frente de oposição, continuou no plenário, num sinal de fissura no interior da coalizão.
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