Córdova relata estabilização da procura por internações e qualifica novos dados como ‘alentadores’
CIDADE DO MÉXICO – O ministro da Saúde do México, José Ángel Córdova, disse ontem que o vírus da influenza humana (o novo nome da gripe suína) não é tão “agressivo” quanto se pensou inicialmente. Córdova fez a observação ao avaliar o ritmo das confirmações de mortes pela epidemia. Da noite de quinta-feira para a manhã de ontem, o número de mortos subiu de 12 para 15 e o de contágios de vivos, de 312 para 343. Mas isso não significa necessariamente que os casos estejam aumentando: as análises laboratoriais é que são muito lentas.
De acordo com o ministro, houve uma estabilização na procura de serviços médicos e de internações na Cidade do México – que concentra a maior parte dos casos. “São dados alentadores, que nos fazem pensar que, felizmente, o vírus não é tão agressivo.” Nenhum paciente morreu na capital entre a noite de quinta e a manhã de ontem, o que levou o governador do Distrito Federal, Marcelo Ebrard, a cogitar rever as medidas drásticas que adotou, de fechamento de bares e restaurantes. O governador está sob forte pressão dos representantes do setor – que diz ter um prejuízo diário de US$ 100 milhões – para voltar atrás.
O ministro da Saúde afastou a possibilidade de decretar uma quarentena (isolamento) do país. Ele considerou que as medidas necessárias foram tomadas. O governo emendou dois feriados – o Dia do Trabalho, ontem, e o aniversário na terça-feira da Batalha de Puebla (vitória mexicana contra forças de ocupação francesas, em 1862) – para mandar fechar todas as atividades econômicas não-essenciais por cinco dias. Em tese, deveriam ficar funcionando apenas hospitais, farmácias, supermercados, restaurantes (só para entregas a domicílio), postos de gasolina, serviços bancários e telecomunicações.
Mas ontem havia lojas de departamento e de roupas abertas no centro da Cidade do México. Em contrapartida, a maioria dos restaurantes fechou. O setor alega que entregas a domicílio representam só 2% de seu movimento. Até nos hotéis os restaurantes estão fechados. O café da manhã e demais refeições são servidos no quarto. O objetivo é conter aglomerações de gente. A comida, incluindo o porco, do qual se originou a doença, não a transmite, mas apenas a saliva.
O tradicional desfile de trabalhadores do 1º de Maio foi cancelado. As escolas estão fechadas. Conhecida pelo seu trânsito infernal, a Cidade do México, com 24 milhões de habitantes, parecia ontem uma pacata cidade do interior.
Soldados do Exército distribuem máscaras cirúrgicas (chamadas de “cobrebocas”) todas as manhãs nas ruas da Cidade do México. Segundo o governo, foi distribuído 1,3 milhão. Mesmo assim, menos da metade dos transeuntes no centro da capital traz máscaras – e muitos as tira e pendura no pescoço. Na periferia, o uso cai para cerca de um quinto. O governo disse ter distribuído também 250 mil antivirais. Três caminhões do Exército com caixas de medicamentos doados pela China chegaram ontem ao Instituto de Doenças Respiratórias. A ajuda chinesa soma US$ 5 milhões.
Apenas um laboratório é capaz de analisar casos de influenza humana no México, ao ritmo de 200 por dia. Parte das amostras está sendo enviada para os Estados Unidos e o Canadá. Até a quinta-feira, uma semana depois do reconhecimento da epidemia pelas autoridades, apenas 679 amostras haviam sido analisadas. Dessas, quase a metade – 312 – deu resultado positivo. Naquele momento, o Ministério da Saúde admitia 2.955 suspeitas de influenza humana. A Secretaria da Saúde promete capacitar outros cinco laboratórios nos próximos dias.
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