Zapatistas tentam capitalizar e ganhar projeção nacional

Especialistas divergem sobre alcance do movimento

Imagens de Pancho Villa e Zapata projetadas durante protesto

CIDADE DO MÉXICO – O Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que nutre uma ideologia revolucionária de forte apelo romântico, tenta capitalizar o desaparecimento dos 43 jovens para ganhar projeção nacional. Os especialistas divergem sobre o êxito dessa estratégia. A guerrilha do Exército Popular Revolucionário (EPR), que tem como base o Estado de Guerrero, onde os estudantes desapareceram, emitiu um comunicado, mas permanece inativa e distante da realidade urbana e nacional. Na constelação de movimentos sociais do México, onde o termo “revolução” tem uma forte presença no imaginário, a chance de uma solução radical parece remota.

“A partir de 2012, os zapatistas lançaram uma iniciativa para organizar o movimento anticapitalista, não só nacional, mas internacionalmente, chamada ‘A Sexta’”, descreve Carlos Aguirre, pesquisador de movimentos sociais da Unam. O nome é baseado em um documento de 2005, chamado “Sexta Declaração da Selva de Cardona”. Aguirre sublinha que A Sexta conta já com 15 mil adesões, muitas das quais de organizações, que incluem indígenas, estudantes, professores, eletricistas e trabalhadores na telefonia – setores que participam agora dos protestos pelo desaparecimento dos 43 jovens. Pelos seus cálculos, essas adesões somam cerca de 2 milhões de pessoas.

Colegas e pais dos estudantes desaparecidos foram ao Estado de Chiapas para se reunir com militantes zapatistas. “O zapatismo não está confinado ao espaço rural e muito menos está morto”, garante Aguirre, que acredita que o movimento possa dar coesão aos inúmeros grupos que tomam parte das manifestações.

Alejandro Cerezo, filho de guerrilheiros

Massimo Modonesi, também pesquisador de movimentos sociais da Unam, tem uma visão diferente. “Os zapatistas têm um certo capital moral, certa escuta, são muito reconhecidos, mas não têm uma organização urbana”, observa. “Têm simpatizantes, que participam de outros espaços, não como nos anos 90, quando tinham militantes. Hoje, o zapatismo é um movimento comunitário, chiapaneco”, considera Modonesi. “Em 2005, 2006, eles tentaram desempenhar um papel no plano nacional. Desde então, são parte das tradições e da história de lutas. Só convocam as comunidades no perímetro de seu território. Não têm ascendência urbana nem nacional.”

Alejandro Cerezo, coordenador-geral da Ação Urgente para os Defensores dos Direitos Humanos, concorda: “O EZLN é muito regional. Tentaram formar frentes nacionais e nunca conseguiram. Não têm gente para isso”.

Já o isolamento do EPR não é objeto sequer de polêmica. “Eles são muito herméticos”, diz Cerezo, cujos pais foram fundadores do grupo, e escondem-se nas regiões de montanhas cobertas de florestas de Guerrero. A primeira operação armada do EPR, que sofreu várias divisões, ocorreu em 1996 e a última, em 2007.

De resto, a ação dos sicários dos narcotraficantes, que extorquem e sequestram fazendeiros e matam seus desafetos, levou nos últimos anos à criação de “polícias comunitárias”, milícias armadas sustentadas por produtores rurais. O governo de Peña Nieto absorveu parte desses grupos em uma nova Polícia Rural. Uma parte não aderiu, e atua como esquadrões da morte, a mando de narcotraficantes, que lutam entre si. Tantos vácuos levam alguns a considerar o México um Estado falido. Cerezo discorda: “O narcotráfico faz parte do Estado mexicano”.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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