Em entrevista à TV chilena, o ex-presidente fez críticas e elogios ao ministro Cavallo
SANTIAGO – O ex-presidente Carlos Menem voltou a defender a dolarização como forma de alcançar estabilidade. Em entrevista à televisão chilena, Menem criticou a proposta feita recentemente por Domingo Cavallo, antes de assumir o cargo de ministro da Economia, de substituir o dólar por uma cesta de moedas como âncora do peso argentino.
“Isso pode significar a desvalorização do peso, o que levaria ao desastre total”, observou Menem. De acordo com o ex-presidente, 80% da economia argentina está fixada em dólar. “Quase todo o crédito dos trabalhadores é feito em dólares”, disse. “Se se desvaloriza o peso, vai-se criar uma situação em que as pessoas mais humildes ficarão com pesos e os mais abastados, com dólares.”
O ex-presidente rejeitou o argumento de que a dolarização representa perda de soberania. “Os países europeus perderam soberania ao aderir ao euro?” Ele voltou a defender a tese segundo a qual, no futuro, só haverá três moedas: o dólar nas Américas, o iene na Ásia e o euro. “Devemos nos antecipar e adotar logo o dólar.”
Mesmo discordando da idéia da cesta de moedas – que, por sinal, não está nos planos de Cavallo no momento -, Menem elogiou o novo ministro. “É um economista de alto nível e grande prestígio”, afirmou. “Durante sete anos e meio, ele foi ministro do meu governo e se saiu muito bem.”
Menem, de 70 anos, reconheceu que quer ser presidente de novo, ao responder a uma pergunta sobre seu estilo extrovertido. “Com minha forma de ser, cheguei à presidência duas vezes, e só não cheguei pela terceira porque não me deixaram”, queixou-se, referindo-se à restrição constitucional a duas reeleições consecutivas.
“Aspiro a chegar de novo à presidência, mas vamos ver como evoluem as coisas na Argentina.” Uma repórter da TVN perguntou se, diante da crise, não havia a perspectiva de ele voltar à presidência antes do esperado. “Seria lamentável que houvesse eleição antecipada”, respondeu. “Espero que se cumpra o calendário, mas vamos ver o que considera o povo. Não se pode entrar num processo político sem ter chance de sucesso. Se surgir uma situação favorável para isso, sim, eu me apresento.”
“Temos feito oposição civilizada e de muito alto nível, procurando fazer com que a Argentina saia
dessa situação crítica”, disse o ex-presidente, que lidera o Partido Justicialista, cujos governadores e deputados receberam pedido de apoio de Cavallo.”Este é o quinto plano econômico. Se falharmos nesse, a Argentina vai ficar numa situação muito difícil.”
Menem veio a Santiago em seu avião particular na noite de quarta-feira, especialmente para participar do programa De Pé a Pá. De acordo com fontes da TVN citadas pelo jornal La Tercera, o cachê de Menem, que o doaria para instituições de caridade do Chile, mais as despesas com sua permanência, custaram cerca de US$ 100 mil.
Mas parece ter valido a pena. Na entrevista de uma hora, em que ele confirmou estar apaixonado e revelou que se casará em maio com a ex-miss universo chilena Cecilia Bolocco, a TVN alcançou 36 pontos de audiência, superando a difícil concorrência da transmissão do amistoso Chile e Honduras, que os chilenos perderam por 3 a 1.
Num dos pontos altos, Menem cantou com Rafael Rojas, o Carlos Gardel chileno, o tango Volver. No caso, voltar à presidência.