LA PAZ – São várias as proezas de Evo Morales Ayma, 42 anos, um líder sindical dos plantadores de coca da região indígena do Chapare, oeste da Bolívia, que, cinco meses depois de ter tido o mandato de deputado cassado, volta como chefe da terceira força política do país.
A mais visível, um dia depois das eleições gerais, é a de ter unido três candidatos presidenciais e partidos historicamente inimigos. Claro que Morales não fez isso sozinho. O líder cocaleiro contou com a ajuda inesperada do embaixador dos Estados Unidos em La Paz, o cubano-americano Manuel Rocha. O embaixador disse na quarta-feira que, se Morales se elegesse ou participasse de um governo de coalizão, os EUA suspenderiam a cooperação com a Bolívia.
A intromissão feriu os brios de muitos eleitores bolivianos, que descarregaram um “voto de protesto” sobre Morales. A última pesquisa do instituto Mori, concluída na véspera das declarações do embaixador, dava 12% ao líder cocaleiro, que teve cerca de 18% dos votos. Ele já vinha crescendo.
Nem se pode entendê-lo apenas como líder dos camponeses indígenas que ficaram sem trabalho com a drástica erradicação dos cultivos de coca nos últimos anos. Segundo José Luis Galvez, diretor do Mori, Morales teve o voto da classe média urbana desiludida com o “neoliberalismo” e a corrupção política.
“A representatividade do Congresso melhorou. Sem o MAS (Movimento ao Socialismo, o partido de Morales), muita gente não teria votado”, pondera o ex-membro da Corte Eleitoral Jorge Lazarte. “O problema é que, a partir de certo ponto, representatividade e governabilidade são inversamente proporcionais.”