Dirigente cubano festeja vitória do PT e prevê aproximação entre Brasil e Cuba
ANTÍGUA – O vice-presidente do Conselho de Estado de Cuba, José Ramón Balaguer, responsável pelas relações internacionais e pela elaboração ideológica do Partido Comunista, admitiu que a vitória de Lula representa um paradigma para a América Latina. Balaguer concedeu entrevista ao Estado durante o 11.º Encontro do Fórum de São Paulo, do qual foi uma das principais estrelas.
Estado – Não faz muito tempo, Cuba era um paradigma para as esquerdas da América Latina. Nesse encontro, aparece como paradigma o PT, que chegou ao poder pela via democrática, aliando-se ao centro e comprometendo-se com o cumprimento dos contratos e do cordo com o FMI. Como o sr. vê essa mudança de paradigma?
José Ramón Balaguer – Não vejo como mudança de paradigma. Há muitos paradigmas, de acordo com os objetivos e os êxitos que se têm. Não vejo uma substituição. A ascensão do PT evidentemente tem uma transcendência enorme. O Brasil é uma potência econômica de nível mundial, com uma população extraordinária. E o fato de Lula, um trabalhador incansável pelos interesses dos oprimidos, ter sido eleito com 52 milhões de votos, evidentemente constitui um paradigma para todos os latino-americanos.
Estado – Depois de ter tentado três vezes, Lula venceu quando adotou um discurso mais moderado e caminhou para o centro. Isso não muda a sua interpretação do que seja vitória da esquerda?
Balaguer – Não creio que a eleição esteja determinada pela linguagem. O triunfo de Lula é inerente à característica de Lula e do PT de defender os interesses dos trabalhadores. Isso é o principal. O fato de ter perdido das outras vezes está ligado aos efeitos do Plano Real, que se foi deteriorando com o tempo, com a aplicação das políticas neoliberais em toda a América Latina e a situação econômica e social que o Brasil tem enfrentado.
Estado – A vitória de Lula muda a correlação de forças na América Latina em favor de Cuba?
Balaguer – Tudo o que for em benefício do povo latino-americano também o será para Cuba.
Estado – E em relação à Alca, por exemplo?
Balaguer – Lula tem um conceito sobre a Alca diferente do que se quer impor. Ele entende que ela é contra os interesses de toda a América Latina. É preciso negociar e ter comércio de todo tipo com os Estados Unidos. Mas esse intercâmbio não pode ser desigual, só no interesse das companhias norte-americanas. Não pode ser em detrimento da agricultura dos países latino-americanos, pela diferença tão enorme que há de tecnologia, produtividade e rendimento. Não pode ser feito nas costas das pessoas. O povo tem que saber o conteúdo da Alca. Creio que há muito poucos benefícios.
Estado – O livre comércio, se fosse para valer…
Balaguer – Falar de livre comércio entre uma potência como os EUA e a Nicarágua, ou mesmo o Brasil, que é mais poderoso, é um sofisma. A expressão “livre comércio” parece superdemocrática. Pelo contrário. É preciso levar em conta as diferenças. Que país é mais protecionista que os EUA, que subsidam a agricultura ancestralmente?
Estado – Cuba apóia a iniciativa brasileira de promover a integração latino-americana?
Balaguer – Há muitos anos, desde antes de triunfar a Revolução, a integração latino-americana é uma política de Cuba.
Estado – O sr. prevê uma aproximação entre Brasil e Cuba a partir de agora?
Balaguer – Estou seguro de que as relações melhorarão, embora já tivéssemos uma relação normal com o governo de Cardoso. Entre Fidel e Lula há excelentes relações, por concepções políticas que coincidem com relação à América Latina e ao mundo.