Evento vai ocorrer em Cotia (SP) e outras três cidades, paralelamente a encontro de Kyoto
PORTO ALEGRE – Os ambientalistas que se dedicam à defesa da água decidiram empregar uma estratégia semelhante à do Fórum Social Mundial, concebido para ser um contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos. Além de enviar representantes ao Fórum Mundial da Água, que será realizado entre os dias 16 e 23 de março, em Kyoto, no Japão, eles realizarão simultaneamente quatro Fóruns Sociais da Água, em Cotia (SP), em Nova York (EUA), em Florença
(Itália), e num local a ser definido na África.
Leonardo Morelli, do movimento Grito das Águas, disse ontem em entrevista coletiva que “Kyoto será a Davos da água”, onde predominará a visão privatista. Em janeiro de 2004, os ambientalistas, de dezenas de organizações em todos os continentes, pretendem realizar na Índia o Fórum
Social das Águas Mundial, paralelamente ao Fórum Social Mundial.
Privatização – Rudolf Amenga-Etego, de Gana, fez um relato das conseqüências da privatização dos serviços de água na África. Segundo ele, em três anos, o metro cúbico da água em Gana saltou de US$ 0,10 para US$ 0,75, e os mais pobres deixaram de ter acesso a ela, por causa do preço. Na África do Sul, afirmou ele, onde o serviço também foi privatizado, está a água mais cara do mundo.
O Grito das Águas se reunirá com representantes do governo de amanhã até o dia 5 para propor um plano estratégico de proteção à água. Segundo Morelli, grandes companhias como a Nestlé, a Coca-Cola e a Petrobrás tiveram acesso ao mapa hidrológico do Brasil, mas ele não está disponível para a sociedade conhecer as reservas do País, e assim tentar protegê-las.
O ambientalista disse que no Brasil está o maior aqüífero do mundo, o de Guarani, um imenso lençol subterrâneo com capacidade para abastecer o País por 3.500 anos, ou o mundo, por 300 anos. Mas ele está em grande parte comprometido pelo uso de agrotóxicos, lixões e falta de saneamento, que contaminam o lençol freático.