Assessor de Serra diz que equipe social terá mais peso

Para Gesner de Oliveira, pastas econômicas devem perder espaço no próximo governo

 

 

O economista Gesner de Oliveira, assessor econômico do candidato José Serra (PSDB), disse ontem que, no próximo governo, a equipe econômica deverá ter menos importância do que no atual, dando espaço para a equipe social. Gesner fez a afirmação no seminário “Brasil: Como crescer? Para onde crescer?”, promovido pelo Departamento de Sociologia, pela Faculdade de

Economia e Administração e pela Escola Politécnica da USP.

“No esforço da estabilização, houve uma ênfase muito grande na importância das pastas econômicas na burocracia do governo federal, o que é natural em função da situação dramática de hiperinflação”, ponderou Gesner. “Hoje, é absolutamente necessária uma reformulação burocrática para dar maior peso a uma equipe social no governo, que possa conduzir e, sobretudo, explicitar para a sociedade quais são as metas sociais e como elas estão sendo perseguidas.”

O assessor de Serra, sabatinado por quatro economistas estrangeiros, respondia a uma pergunta da professora Barbara Stallings, da Universidade Brown (EUA). Até recentemente coordenadora de pesquisas da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), Barbara perguntou se o

programa de Serra contemplava distribuição de renda, considerando que “a eqüidade não é só complementar, mas condição necessária para o crescimento, pela importância do capital humano”.

A sul-coreana Meredith Woo-Cummings, da Universidade de Michigan (EUA), questionou as chances de o Brasil promover o crescimento econômico com base no aumento das exportações, como prevê o programa de Serra (e o de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, também). Meredith lembrou que o cenário internacional é sombrio: o Japão está em recessão há 11 anos e os EUA podem mergulhar numa no ano que vem. Além disso, argumentou, os EUA são altamente dependentes do comércio exterior, que representa 30% de seu Produto Interno Bruto (PIB), e usarão “todas as ferramentas disponíveis” para impor a eliminação de barreiras comerciais nos países em desenvolvimento.

A especialista perguntou se o Brasil estava preparado apenas para “promover” as exportações, como alguém que faz meia hora de ginástica em casa, ou para adotar um modelo de crescimento orientado para as exportações, como alguém que treina para ser competitivo em esporte profissional.

Gesner disse que o Brasil, ao lado de países continentais como os EUA e a Rússia, com um grande mercado interno, não deve adotar um modelo de crescimento baseado em exportações e “dificilmente apresentará característas do Chile e de cidades-Estado na Ásia, que têm um desempenho notável nas exportações”. Mas reafirmou que, para reduzir o déficit em conta corrente de 3% para 2% do PIB (uma das condições para baixar os juros e voltar a crescer), será necessária a “forte promoção das exportações e da substituição de importações”, concentrando nessa área os recursos do Banco Nacional para o Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “E, se houver recessão no mundo, não afetará só a nós, mas a todos os países.”

O sul-coreano Ha-Joon Chang, da Universidade de Cambridge (Inglaterra), foi na mesma linha, observando que no Brasil “estão esperando demais da Área de Livre Comércio das Américas (Alca)”. Autor do livro Kicking Away the Ladder (Derrubando a Escada), que recomenda aos países em desenvolvimento fazer o que os ricos fazem e não o que os mandam fazer no comércio exterior, Chang advertiu que, ao ingressar na Alca, o País pode, na melhor das hipóteses, restringir-se a exportar produtos agrícolas. “Nos primeiros cinco anos, poderia ser benéfico, mas, daqui a dez anos,

quando o Brasil quiser exportar produtos industriais, não haverá espaço para isso”, alertou Chang, perguntando se os brasileiros não estavam sendo excessivamente imediatistas nessa questão.

Gesner reconheceu que alguns especialistas apontam o risco de a Alca não valer a pena para o Brasil, no caso de os EUA serem inflexíveis com suas barreiras protecionistas. Mas enfatizou que o Brasil “não pode simplesmente dar as costas para a Alca”, e isso não só por causa do comércio: “O fato de o México estar na Alca e o Brasil, não, significaria para nós perda de investimentos.”

Hoje será a vez de o senador eleito Aloizio Mercadante (PT) falar no seminário.


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