No Fórum de São Paulo, militantes tentam tirar lições do triunfo de Lula
ANTÍGUA – Representantes do PT e do PC do B no 11.° Fórum de São Paulo, que reúne as esquerdas latino-americanas, procuravam ontem ajudar os colegas do continente a tirar lições da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial, o principal tema dos debates. Nas reuniões, os brasileiros explicaram que a vitória foi o resultado da ampliação do leque de alianças do PT, incluindo o que chamam de “centro”, no caso o PL.
“A lição mais importante a ser tirada é que saiu vitorioso um novo pensamento político”, disse o vice-presidente do PC do B, José Reinaldo de Carvalho. “A sociedade brasileira continua sendo conservadora, e nossa vitória não teria ocorrido se não tivéssemos feito a flexão em direção ao centro, recebendo o apoio de setores empresariais importantes.” Ele fez a ponderação no workshop de representantes de partidos de esquerda do Cone Sul, depois de intervenções de militantes dos países vizinhos, para os quais a vitória de Lula demonstra que é possível encontrar um “caminho alternativo ao neoliberalismo”.
Os petistas e seus aliados da esquerda brasileira são os mais assediados no encontro, que começou na segunda-feira e termina hoje, em Antígua, cidade do período colonial, que fica a 40 quilômetros da capital da Guatemala. A vitória de Lula, que fundou o Fórum de São Paulo em 1990, para discutir os rumos da esquerda depois da queda do Muro de Berlim, acendeu esperanças nos partidos de toda a região de repetir o feito em seus países. Participam do encontro 773 representantes de 48 países de todos os continentes.
Principal representante do PT no fórum, o deputado Paulo Delgado (MG) participava ontem de encontros bilaterais, depois de ter falado na abertura, na noite de segunda-feira. Delgado fez apenas uma saudação, logo depois de um discurso inflamado de José Ramón Balaguer, vice-presidente para relações internacionais do Conselho de Estado de Cuba e membro da direção do Partido Comunista cubano.
“Pela importância estratégica do Brasil e a trajetória da esquerda e do movimento popular daquele país, o êxito mais importante que celebramos hoje é a eleição de Lula”, disse Balaguer. “Depois que em três ocasiões a direita se uniu para bloquear sua passagem e exacerbou com êxito o fantasma da fuga de capitais que desencadearia um governo de esquerda, a gravidade da crise e a experiência estratégica e tática acumulada pelo PT ajudaram para que a esperança triunfasse sobre o medo, precisamente quando o espectro da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ameaça fechar as margens de independência, soberania e autodeterminação com que ainda contam as nações da região”, acrescentou. “O trabalho do novo governo brasileiro será árduo e Lula merece todo o nosso apoio.”
A Alca, ou melhor, a oposição a ela, é outro tema central do fórum. E em relação a ela as expectativas sobre o governo Lula são muito fortes. “Não será possível, a partir unicamente do governo brasileiro, fazer valer os interesses de Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile”, alertou ontem o vice-presidente do PT do Rio Grande do Sul, Paulo Ferreira, no workshop do Cone Sul. “A esquerda tem a responsabilidade de ganhar as eleições nesses países.”
Em seu discurso, Delgado foi enfático. “Vamos dar prioridade ao fortalecimento dos mercados regionais e sub-regionais e, a partir deles, negociar um mercado global”, afirmou o petista. “A Alca, da forma como está proposta, não passará.”
Militantes do Partido Comunista chileno circulavam com uma carta que seria entregue ontem a Lula no Chile. Nela, o partido exprime sua “preocupação” com uma suposta estratégia dos Estados Unidos de usar o modelo do Chile e a influência do presidente Ricardo Lagos, do Partido Socialista, para levar Lula a assumir “uma atitude mais positiva frente à Alca, aceitando-a como solução” para a América Latina.