Para Gesner Oliveira, assessor econômico do candidato do PSDB a presidente, José Serra, “há um exagero da parte de alguns cadidatos em relação à dimensão do problema” da dívida interna.
“Não é verdade que ela tenha decuplicado”, afirma ele, que já foi presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). De acordo com Gesner Oliveira, as cifras que dão essa idéia são nominais, embutindo uma inflação de cerca de 100% no período que vai de 1994 até este ano.
“Para avançar do ponto de vista macroeconômico, o Brasil precisa de um plano articulado, cuja precondição é a continuidade do tripé formado pelo regime de câmbio flutuante, metas inflacionárias e austeridade fiscal”, afirma o professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. “Para enfrentar a restrição externa, é preciso promover as exportações e a substituição de importações por produtos nacionais”, argumenta Gesner. “Isso permitirá a redução gradual dos juros que, por sua vez, estimulará os investimentos e o crescimento do emprego”, acrescenta ele. “Também são fundamentais a reforma tributária para eliminar as desvantagens que os produtos brasileiros sofrem com a cumulatividade de tributos, a melhora da infra-estrutura e o aperfeiçoamento e a criação de mecanismos de financiamento de longo prazo.”
Para Gesner Oliveira, “esse plano articulado, contido no programa de governo de José Serra, permitirá um círculo virtuoso de crescimento e menor endividamento, gerando mais renda e emprego.” À pergunta sobre como reduzir a atual vulnerabilidade externa, ele responde que, “para o curto prazo, o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) é oportuno e será muito importante dar sinal de continuidade das políticas macroeconômicas”, para diminuir a insegurança dos investidores. “É natural que, com a aversão ao risco e as preocupações com a situação da região, o ciclo eleitoral suscite dúvidas. Faz parte do jogo”, declara o economista, que é sócio da Tendências Consultoria Integrada.
À questão sobre se a ênfase deve estar em reduzir gastos e produzir mais superávit primário ou em aumentar a receita via crescimento econômico, Gesner observa que o País já está comprometido, pelo acordo com o FMI, a manter esse superávit em 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB). “O programa de Serra contém diretrizes de austeridade fiscal, mais do que um número específico (3,75%), que evidentemente pode mudar de acordo com a conjuntura”, analisa o economista. “Mas o esforço fiscal será o necessário para garantir que não haja uma trajetória explosiva na relação dívida/PIB”, assegura o assessor econômico de Serra. “E a avaliação é a de que o esforço atual é o adequado.”