Elogios a Lula e votos em Serra em Ribeirão

Eleitores aprovam políticas do presidente, mas se identificam mais com ex-governador

 

RIBEIRÃO PRETO – Na noite de 29 de abril, Ribeirão Preto estava repleta de gente de fora – incluindo os candidatos José Serra e Dilma Rousseff, que vieram para a Feira Internacional de Tecnologia Agrícola (Agrishow). As mesas lotadas de gente de todo o Brasil na tradicional Choperia Pinguim, no centro da cidade, testemunhavam o dinamismo do agronegócio da região. Era noutro Pinguim, no Shopping Santa Úrsula, no bairro de classe média alta de Higienópolis, que se encontravam moradores da cidade naquela noite. Foi lá que o Estado ouviu seis visões diversas, porém confluentes, sobre o País, o governo e a eleição presidencial.

“Sinceramente, não posso reclamar”, diz Eduardo Capretti, de 27 anos, gerente de contas de pessoas físicas de um grande banco em Ribeirão Preto, com clientes no interior de São Paulo e no Triângulo Mineiro. “Tenho trabalhado mais, mas as coisas estão acontecendo, tem bastante oportunidade.” Uma das explicações é o acesso ao crédito. “Houve políticas do governo federal que facilitaram o crédito para a população, como o empréstimo consignado do INSS”, ressalta Eduardo, formado em direito e em administração. “Era um nicho que não era visto. As empresas e os bancos não davam a atenção devida a esse público.”

“O presidente fez um trabalho muito agressivo, muito importante, de puxar parcerias com outros governos e empresas fora do Brasil”, elogia Eduardo. “Foi buscar mercados novos em regiões como África e Oriente Médio. No começo foi até criticado por isso.” Eduardo apoia a política externa de Lula mesmo com relação a parcerias mais controversas, como com o Irã: “Eu acho que tem de ser pragmático. É um parceiro comercial que ele preza.” Ele votou em Lula nas eleições anteriores. “Não sei se voto na Dilma ou no Serra. Preciso entender mais o Serra. Não votei nele (para governador de São Paulo) e me arrependi. Fez um bom governo.”

Paulo Sérgio Dalla Bernardina, de 47 anos, que mora em São José do Rio Preto, outra cidade importante do interior de São Paulo, é gerente regional do mesmo banco. “Acho que o País melhorou muito”, confirma Paulo, formado em administração de empresas. “Anos atrás se tinha uma expectativa de o salário mínimo chegar a US$ 100, hoje chega a US$ 300”, exemplifica. “Claramente, as políticas adotadas pela atual presidência do Lula, que arrastou lá do Fernando Henrique, têm um forte conteúdo social, são voltadas para as classes D e E. As pessoas melhoraram de vida.”

“As políticas internacionais são muito claras e o Brasil se fortaleceu muito no cenário internacional”, continua Paulo. “O Brasil está muito melhor do que era há 15, 20 anos.” Ele não votou em 2006, porque estava viajando. Este ano, pensa votar em Serra. “Por mais que eu ache que as políticas do Lula foram muito boas, acho que o Lula não tem uma boa equipe”, explica. “A equipe dele, do PT, José Dirceu e outros, prejudicou muito a imagem de Lula e do Brasil, levou o País a um estado deteriorado de corrupção. Lula tem uma responsabilidade muito grande de não ter atuado em relação à corrupção. Ele ignorou os fatos debaixo de seus olhos, grande parte deles gerada dentro da equipe do PT. Então, não voto no PT.”

Os problemas éticos no governo Lula também incomodam Dante Villa Glé, de 27 anos, formado em direito, e que se prepara para um concurso de delegado da Polícia Federal. “Eu não sou ufanista a ponto de achar que Lula foi esse salvador da pátria que ele se vende, o famoso ‘nunca antes na história desse País’, mas acho que ele teve uma postura durante grande parte do governo que foi benéfica em alguns aspectos, mas no geral não aprovo o governo dele, não gosto da figura dele, acho que ele desmoraliza tudo o que vai contra ele”, critica Dante. “Não tem uma oposição forte, como o próprio PT fez contra os tucanos. Os tucanos não souberam ser oposição. Então ele se saiu muito bem. Criou uma imagem muito superior ao que foi o governo dele. Acho que o governo não foi tão bem, mas teve seus méritos, embora não muitos.”

Dante observa que o governo Lula “não fomentou a Polícia Federal” nem outros órgãos que combatem o “crime de colarinho branco”. Ele lembra que o presidente “atropelou” o Tribunal de Contas da União, que tentou embargar obras federais por irregularidades, assim como as operações Satiagraha e Sanguessuga da PF, que “tinham muita gente dele envolvida”. “O próprio mensalão me deixou abismado”, conta Dante. “Não concordo que, com uma falta de ética desse tamanho, Lula tenha a credibilidade que tem.”

“De mil políticos, você tira dez corretos”, estima Sebastião Alberto Monteiro, de 56 anos, sócio de uma construtora em Ribeirão especializada em lojas e salas comerciais. “O resto não está preocupado com a Nação, mas consigo próprio. Toda a corrupção que aconteceu no governo Lula nós ficamos sabendo. Nos governos anteriores, não ficamos sabendo. É tudo a mesma coisa. Não muda nada.”

Sebastião diz que a construção civil está “bombando”, atendendo a uma demanda reprimida ao longo de 15 anos. Embora favoreça seus negócios, ele vê um motivo negativo nesse boom: “A segurança está péssima. O profissional liberal que trabalhava no escritório de casa está se mudando para sala comercial onde encontra segurança para trabalhar, com porteiro 24 horas, câmeras na fachada.

Casas residenciais estão se desvalorizando. Abriu-se mercado para condomínios verticais e horizontais.” Para o empresário, que estudou até o quarto ano de direito, tanto o governo estadual, responsável direto pela segurança pública, quanto o federal, que repassa as verbas, têm responsabilidade nisso.

Ele não votou em Lula em 2006, mas acha que o governo dele “não está sendo dos melhores nem dos piores”. “Tenho afeição muito grande pelo Serra”, confessa. “Acho que está no momento de mudar um pouquinho. É uma tentativa. Pode-se até quebrar a cara. Mas acho que a candidata do Lula ainda é muito imatura. Teve uma boa escola, o Lula é um grande professor.”

A enfermeira Gabriela Levorato, de 25 anos, do Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, avalia o governo principalmente pelo ângulo da saúde pública. “Em alguns pontos, teve certo desenvolvimento; noutros setores, retrocedeu, principalmente na saúde”, diz Gabriela, que fez pós-graduação em oncologia na PUC de Campinas.

“Nesses três anos de pós-graduação e de trabalho, senti que aumentou muito o número de pacientes, e o de leitos nos hospitais continuou o mesmo, ou quando aumentou não se ofereceu a infraestrutura necessária”, critica ela. “Assim como os governos estadual e municipal, o federal também tem sua parcela de responsabilidade. No meu hospital, a responsabilidade é do Estado, e a gente nota um abandono.”

Gabriela observa que é a iniciativa privada que desenvolve a infraestrutura do País, com as concessões de rodovias, ferrovias e portos, e a possível privatização dos aeroportos. “O governo lança o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas na verdade nada sai do papel.” Ela votou em Geraldo Alckmin em 2006. “Apesar de Serra ser meu patrão e eu não estar muito contente com ele, como não vou votar na Dilma Rousseff, acho que, se não formar outra opinião, acabo votando no meu patrão.”

“O governo tem algumas coisas boas’, pondera Paulo Santiago, de 29 anos, doutor em educação física e professor da USP de Ribeirão Preto. “Eu saí da classe baixa e vejo que quem sai dela tem mais chance de ter uma posição melhor na sociedade”, diz Paulo, cuja mãe é costureira e o pai, vendedor de material odontológico. “A classe alta continua em posição favorecida. Quem pagou o preço foi a classe média, que foi mais estrangulada.”

Como exemplo, Paulo cita o Programa Minha Casa Minha Vida. “As pessoas de classe mais baixa têm certa facilidade de comprar casa porque o governo dá subsídio de R$ 20 mil para casas de até R$ 100 mil”, analisa. “Foi uma intenção boa, mas o mercado imobiliário, que não é bobo, subiu os preços das casas de R$ 80 mil para até R$ 150 mil, o que fez inflacionar o mercado inteiro.” Paulo teme que a especulação imobiliária leve o Brasil a uma crise semelhante à dos Estados Unidos.

Eleitor de Lula, o professor nutre dúvidas sobre a candidata do presidente. “Concordo com Ciro Gomes, que disse que a Dilma parece ser boa pessoa, mais centrada, porém não tem experiência”, diz ele. “Enquanto o Serra é mais experiente, parece ser mais competente, mas tem esse lado mais maldoso.” Ele suspeita que as obras e políticas que levaram ao crescimento econômico, no País e em São Paulo, não tenham resultado de planejamento, mas de cálculo eleitoral.

 

 

 

“Se pudesse não votaria em nenhum dos dois, mas são as opções reais que a gente tem’, lamenta o professor. “Não confio na Dilma por estar vinculada ao PT. Serra é competente, mas faz alianças com partidos que não são confiáveis.” Ambos usam muito marketing, reclama Paulo, citando os slogans “Brasil, um País de todos”, do governo federal, e “São Paulo, um Estado cada vez melhor”, do estadual. “A política virou um grande marketing.” 

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