Comparecimento relativamente pequeno pode ser um alívio, mas não significa aprovação do governo
O baixo comparecimento nas manifestações deste domingo em favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff nas principais cidades do Brasil representa um alívio para o governo. Mas não é um sinal de aprovação dele, e sim da falta de alternativas. Grande parte das pessoas que acompanham o noticiário está indignada com a corrupção e com os problemas econômicos, mas não se sente encorajada com a perspectiva de o poder ir para as mãos do PMDB do vice-presidente Michel Temer e dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros – que ocupam, nessa ordem, a linha sucessória.
Grande parte dos brasileiros descontentes com o descalabro da corrupção e a desordem econômica e administrativa entende que esses problemas são causados pela cultura e sistema políticos do país. E o PMDB representa essa cultura e esse sistema tanto quanto o PT, se não mais que ele. A destituição da presidente desequilibraria a relação de forças políticas no país em favor do PMDB.
Quanto ao PSDB, apesar de seu bom desempenho nas últimas eleições, e também nas últimas pesquisas de intenção de voto para presidente, a sua proposta de convocação de novas eleições não encontra ressonância, não só pela sua fragilidade jurídica – que escapa aos menos versados em questões legais – mas pela falta de precedentes na história recente do presidencialismo brasileiro.
Há, ainda, uma percepção difusa de que a corrupção pode não ter sido necessariamente menor nos mandatos de Fernando Henrique Cardoso. De fato, é impossível saber, porque a corrupção não era investigada na época, já que a Procuradoria-Geral da República só ganhou independência a partir do primeiro mandato de Lula, que instituiu a prática de nomear o vencedor das eleições da Associação Nacional dos Procuradores da República.
Esse quadro de falta de alternativas leva a um desalento político, que, somado ao pessimismo econômico, cria um ambiente incomum no Brasil, normalmente caracterizado pelo otimismo quase infantil. Combinado com o fortalecimento de instituições como o Ministério Público, a Justiça e a Polícia Federal, esse pessimismo pode dar início a um amadurecimento. Mas esse processo, se realmente ocorrer, tende a ser longo e doloroso.