Num mundo em constante mutação, é difícil prever as reações do mercado de trabalho
Promessas de geração de emprego têm freqüentemente gerado muitos votos e poucos empregos ao redor do mundo. E isso não se deve só à revisão de prioridades dos políticos depois de eleitos. No mundo em constante transformação, as demandas do mercado de trabalho mudam ao sabor de uma infinidade de motivos, beirando o imponderável.
Leis e equações antes apreciadas pelos especialistas enchem agora a lata do lixo da história acadêmica. Bilhões de dólares em isenções fiscais, facilidades de infra-estrutura e subsídios diretos evaporaram sem abrir os postos de trabalho esperados, criando a suspeita de que o preço do emprego se tornou proibitivo e é mais barato e eficaz mandar o desempregado para casa e provê-lo com um seguro para o resto da vida.
Como ocorre na Europa e na América Latina, o tema do desemprego dominou essas eleições no Brasil. Incidentalmente, o presidente eleito foi o que prometeu gerar mais empregos – 10 milhões. Mais que isso, o ex-metalúrgico do ABC Luiz Inácio Lula da Silva e o seu vice, o empresário da indústria têxtil José Alencar, representam os dois pólos de uma quase idílica relação capital-trabalho.
Mesmo com o setor de serviços e com as micro e pequenas empresas sendo os maiores empregadores, no imaginário popular a noção de emprego está associada à grande indústria. E às grandes obras, claro, que estão no coração do programa de geração de empregos do governo Lula (ver quadro acima).
O programa do governo conta com um crescimento econômico médio anual – obtido com aumento de exportações e substituição competitiva de importações, política industrial, queda dos juros, reforma tributária, etc. – de 5% em quatro anos, para gerar 5,3 milhões de empregos formais.
A relação entre emprego e crescimento não é necessária. Há o que os técnicos chamam de jobless growth, crescimento sem emprego. Entre o início de 1994 e o fim de 1997, a economia brasileira cresceu em média 5% ao ano (o índice almejado pelo futuro governo), mas o emprego industrial caiu, enquanto a indústria aumentava sua produtividade ou vergava diante da concorrência externa, com as fronteiras abertas ao comércio e o real sobrevalorizado frente ao dólar. Foram os setores de comércio e serviços, impulsionados pelo aumento da renda proporcionado pela estabilidade e o câmbio, que evitaram o aumento do desemprego.
Esses efeitos do Plano Real já se dissiparam. Entretanto, Antônio Prado, professor de economia da PUC-SP e autor do programa de geração de empregos do PT, acredita que essa inibição no emprego industrial não se repetirá quando a economia voltar a crescer.
Isso, graças ao câmbio flutuante, que promove a substituição de importações e as exportações. E esse é o melhor emprego, com carteira assinada, porque são as grandes empresas industriais e agrícolas que em geral concorrem com importados e que exportam.
Segundo Prado, o cálculo de 5,3 milhões é conservador, porque está baseado num coeficiente de elasticidade – relação entre emprego e crescimento – de 0,4. Ou seja, a cada ponto porcentual de aumento do PIB, a ocupação cresce 0,4. E um crescimento fincado no câmbio flutuante gera empregos formais, que tendem a crescer mais que o PIB – ou seja, com elasticidade acima de 1.
Há quem receie que a realidade não obedeça ao comando dessas leis. André Urani, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e da Sociedade (Iets), já foi um entusiasta dos modelos matemáticos. Hoje, está cético. “São muitos os fatores que interferem na geração de empregos: custo da mão-de-obra, salário, encargos, tecnologia, incentivos fiscais”, enumera Urani. “Essas variáveis tornam problemático extrapolar para a frente o que se observou atrás.”