Assessor do candidato apontado como vencedor pelas pesquisas diz não prever turbulências com FHC
BELO HORIZONTE – O ex-presidente Itamar Franco (PMDB) é o novo governador do Estado de Minas. À 0h49, com 97,97% da seções apuradas, Itamar havia obtido 57,62% dos votos válidos (4.738.792 votos), contra 42,38% (3.485.943 votos) dados ao governador Eduardo Azeredo (PSDB), candidato à reeleição.
Do primeiro para o segundo turno, os votos da esquerda migraram maciçamente para Itamar, apoiado pelo prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro (PSB), pelo PC do B e pelo PDT. Apesar da neutralidade oficial do PT, deputados do partido apoiaram Itamar, enquanto 20 dos 27 prefeitos petistas ficaram com Azeredo.
Só alguns dias antes do segundo turno foi que o presidente Fernando Henrique Cardoso declarou apoio a Azeredo, em resposta a pergunta de jornalistas no Porto, durante a Cúpula Ibero-Americana, em Portugal. Em Juiz de Fora, onde votou, Itamar disse ontem que não ficou chateado com o presidente. “Ele tem o direito de fazer o que quiser.” De qualquer forma, é difícil prever as conseqüências, no cenário nacional, da vitória de Itamar.
O ex-presidente não se define nem como oposição ao governo de Fernando Henrique nem como governista. Sua campanha foi baseada na noção de que, tendo sido presidente, falará com Fernando Henrique e com seus ministros “de igual para igual”, em contraste com a atitude supostamente subserviente de Azeredo.
Do primeiro para o segundo turno, Itamar assumiu um discurso um pouco mais combativo, para atrair a esquerda, e com ele os 16% de votos válidos obtidos por Patrus Ananias. Foi confiando no eventual papel de Itamar como liderança da facção oposicionista – e centro-esquerdista – do PMDB que o prefeito Célio de Castro (PSB) passou a apoiá-lo no segundo turno. Já Patrus e observadores imparciais não estão seguros da vocação oposicionista de Itamar.
O coordenador político da campanha de Itamar, Aloísio Vasconcelos, disse ao Estado que tudo dependerá de “um entendimento nacional, liderado a partir de Minas”. Vasconcelos afirmou que Itamar nutre “restrições à conduta da equipe econômica” e enfatiza a necessidade de reformas tributária e política. Quanto à relação com Fernando Henrique, Vasconcelos garantiu que “até hoje foi boa” e não vê “turbulências”.
Dos 53 deputados federais mineiros eleitos, 27 apoiaram Itamar no segundo turno, segundo Vasconcelos. Dos 9 que o PMDB elegeu, 8 poderão ser considerados bancada do governador na Câmara. O nono, Antonio do Valle Ramos, é a única dúvida, afirma Vasconcelos. Dos 7 deputados eleitos pelo PT, 6 apoiaram Itamar no segundo turno.
Naturalmente, isso não implica adesão automática à “bancada mineira” vinculada ao futuro governador. O PT estaria associado ao PMDB mineiro só em caso de definição clara de Itamar no papel de oposição. Isso poderia abrir caminho para a formação de uma frente de oposição mais ampla que a anterior. Aí estariam também PC do B e PDT. Cada um elegeu um deputado federal por Minas e ambos ficaram com Itamar no segundo turno, depois de terem apoiado Patrus no primeiro.
De acordo com o coordenador político, dos 7 deputados federais que o PPB elegeu, 4 apoiaram Itamar, 2 ficaram contra e 1, indefinido. Dos 2 do PTB, 1 apoiou Itamar e outro, Azeredo. Os 3 do PL e o do PST apóiam Itamar. Como era de se esperar, os 14 deputados federais eleitos por Minas estiveram com Azeredo. Já no PFL a situação é distinta: dos 8 eleitos, 6 apoiaram o governador e 2, o ex-presidente.
Obviamente, o apoio a Itamar no segundo turno serve apenas para dar uma idéia preliminar das dimensões das bancadas mineiras de oposição e de apoio ao governo. A feição final dessas duas bancadas dependerá dos rumos tomados por Itamar e também por partidos cujo destino na chamada base de sustentação do governo é incerto, como o PPB.