Para o economista Tito Ryff, assessor do candidato Anthony Garotinho (PSB), a dívida se tornou um círculo vicioso por dois motivos que estão interligados:
O aumento de despesas correntes do governo “muito acima do crescimento do PIB” e os juros altos que “a elevaram à estratosfera”.
Ryff reconhece que o aumento da dívida deve-se, em parte, ao reconhecimento dos “esqueletos” pelo governo. Mas lembra que as dívidas dos Estados e municípios, que são a fatia mais representativa, foram assumidas pelo governo entre 1997 e 1998. “No entanto, a dívida cresceu astronomicamente também entre 1994 e 1998, porque estava indexada pela Selic”, a taxa básica do Banco Central.
Secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio no governo de Garotinho, Ryff diz que, entre 1994 e 1998, o Estado não contraiu nenhum novo empréstimo e, mesmo assim, a dívida “mais que dobrou em termos reais”, ou seja, descontada a inflação. “Nenhum outro país do mundo se manteve, ao longo de sete anos, entre os quatro com os juros mais altos do mundo.”
Citando levantamento da Global Invest, ele diz que nos últimos 40 meses o Brasil, com taxa média de juros reais de 10%, foi o que mais ocupou o primeiro lugar entre países emergentes, cuja taxa média foi de 3,1%. Segundo Ryff, com taxa de 14% de juros reais, a dívida dobra em cinco anos e com 18,5%, dobra em quatro. “Qual a lógica de sustentar os juros nesse patamar?”, indaga.
“Não quero dizer que não se deva remunerar os fundos ou que não devam ser líquidos. Mas é preciso remunerar mais quem mantiver o dinheiro por mais tempo.” Como exemplo, defende a adoção de CPMF decrescente, conforme o prazo da aplicação, chegando a zero nas de mais longo prazo.
Ryff argumenta que há três razões para não baixar juros. A primeira é o impacto na inflação, pelo aumento da demanda. Não é o caso do Brasil, onde a inflação está sendo puxada pelos preços administrados e, agora, pela variação cambial. A segunda é usar os juros altos para atrair capital especulativo. “Mas esse é hot money, que, na primeira oportunidade, vai embora. Não é uma forma sadia de manter o balanço de pagamentos.”
A terceira é evitar a fuga de ativos financeiros para o dólar. “Mas o volume de dólar físico no País é muito pequeno”, adverte. “Deixa o dólar subir, qual o problema? Tudo o que sobe, desce.” Quanto a crédito para exportação, “o governo não precisa se preocupar”, na sua opinião. “As empresas terão de renegociar com os credores, e eles terão de ceder.”
Ryff é a favor de superávits primários até maiores que os 3,75% que o governo tem como meta, e por muitos anos, para “dar demonstração da capacidade de pagar a dívida”. Com a queda dos juros, diz, sobrará dinheiro para amortizar o principal da dívida e ampliar seus investimentos em infra-estrutura.