O advogado está envolvido, de uma forma ou de outra, na compra dos três apartamentos do presidente
O advogado Roberto Teixeira, que atuou na compra da Varig pela VarigLog, tem presença marcante na vida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não apenas pela amizade, por ser padrinho de um dos filhos do presidente, ou por Lula ser o padrinho de casamento de uma de suas filhas. Há forte ligação, também, na esfera imobiliária.
Depois de morar seis anos de favor numa casa de Teixeira, Lula adquiriu três apartamentos: a cobertura onde mora e outros dois. É conhecida a participação de Teixeira na compra da cobertura. Documentos obtidos pelo Estado revelam que os outros dois apartamentos também passaram pelas mãos do compadre, antes de irem para as de Lula.
Com 72 metros quadrados cada, os apartamentos 92 e 102 do Edifício Kentucky, na Avenida Getúlio Vargas, 405, em São Bernardo do Campo, foram transferidos para o nome de Lula e de sua mulher, Marisa Letícia, em 25 de setembro de 2001.
Segundo as escrituras, o casal trocou um sobrado que possuía na Rua Maria Azevedo Florence, também em São Bernardo, pelos dois apartamentos, que pertenciam à FGS Engenharia e Construções Ltda. (cuja falência foi decretada em abril deste ano). O valor atribuído ao sobrado foi de R$ 120 mil e, aos dois apartamentos, R$ 70 mil cada, totalizando R$ 140 mil. Lula pagou a diferença com dois cheques de R$ 10 mil.
Em valores corrigidos, o preço atribuído ao sobrado nas escrituras foi de R$ 224.454,06. Em junho de 1978, Lula o havia comprado, em 196 prestações, por Cr$ 253.172,11 (R$ 117.398,62; ambos atualizados pelo IGP-DI, o índice existente na época). Em suas declarações de bens entregues à Justiça Eleitoral em junho de 2002 e 2006, Lula afirma que os apartamentos foram adquiridos em setembro de 2001 por R$ 38.334,67 cada – pouco mais da metade do que consta nas escrituras.
Esses apartamentos, juntamente com outros dois, no mesmo edifício, eram da Mito Empreendimentos Comerciais e Imobiliários Ltda., pertencente a Roberto Teixeira (em dezembro de 2005, o advogado retirou seu nome da empresa, depois de ter colocado as filhas Valeska e Larissa no seu lugar).
A Mito transferiu os apartamentos para a FGS em 20 de setembro de 2000, por “instrumento particular de dação em pagamento”, sem registro na escritura, a R$ 30.103,12 cada. A empresa de Teixeira, por sua vez, havia adquirido os apartamentos em 29 de novembro de 1995, da Acec Empreendimentos Ltda., por um “termo de composição amigável”, também sem registro na escritura, a R$ 25 mil cada.
A Acec, que construiu o prédio, pertencia ao dono da falida Transbrasil, Antônio Celso Cipriani, e a seu irmão Emídio (cujos nomes formam a sigla). Em dezembro de 2001, Antônio Celso Cipriani retirou seu nome da empresa. Ex-agente da Polícia Federal, Cipriani tornou-se amigo de Lula depois que o então líder sindical foi preso por um mês pelo Departamento de Ordem e Política Social (Dops), em 1980.
Roberto Teixeira tem estreitas ligações com Cipriani. Ele e sua filha Valeska advogaram para Cipriani e a Transbrasil, da qual Teixeira figurou durante anos como membro do Conselho Administrativo. No “comício da vitória”, na noite de 28 de outubro de 2002, em frente ao prédio da TV Gazeta, em São Paulo, Cipriani surgiu ao pé da escada e mandou chamar Teixeira. O compadre de Lula colocou em sua camisa uma estrela do PT e o alçou para cima do palanque, onde Cipriani ficou como papagaio de pirata do presidente eleito. A afilhada Valeska figura como procuradora da Acec na venda dos apartamentos.
Teixeira participou também na aquisição, em 12 de junho de 1996, da cobertura onde mora o presidente, no Edifício Green Hill, na Avenida Prestes Maia, 1.501, São Bernardo do Campo. O prédio foi construído pela Lorenzoni Incorporadora e Administradora Ltda. Lula declarou que parte do dinheiro usado na compra do imóvel fora obtida com a venda de um automóvel Omega a Teixeira, por R$ 40 mil. O advogado afirmou ter intermediado o negócio do apartamento, que seria de um cliente seu, atrasado no pagamento das mensalidades.
Conforme a imprensa apurou na época, o carro não foi transferido para Teixeira, mas para a Express Factoring, que por sua vez a vendeu a Janett Correia. O cheque que pagou a primeira parcela do carro (e do apartamento) também não era de Teixeira, mas de Sérgio Lorenzoni, irmão de Dalmiro Lorenzoni, construtor do prédio e beneficiado pela revogação de processo de desapropriação pelo então prefeito interino, o petista Djalma Bom, ex-companheiro de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos. Nesse negócio, também estiveram envolvidos Teixeira e Cipriani (leia em Prefeito do PT revogou desapropriação de terreno).
O restante do dinheiro usado na compra, R$ 72 mil, segundo Lula, seria fruto da venda de um terreno herdado por sua mulher. Na escritura do terreno, localizado na Rua dos Miosótis, em São Bernardo, a venda foi registrada por R$ 55.636,35 em 15 de março de 2000 – quase quatro anos depois da compra da cobertura.
Depois da experiência com a Transbrasil, Teixeira trabalhou na venda da Varig para a VarigLog, contestada na Justiça pela suspeita de que foi violada a lei que limita a 20% a participação de capital estrangeiro em companhias aéreas. A VarigLog e seus sócios pagaram US$ 24 milhões (mais R$ 100 milhões em debêntures) pela Varig, e depois a venderam à Gol por US$ 320 milhões. Como advogada, Valeska, a filha de Teixeira e afilhada de Lula, também atuou no negócio.
Nenê Constantino, dono da Gol, decidiu comprar a VarigLog atendendo a um apelo de Lula para que salvasse a Varig. Depois de fechar o negócio, em março de 2007, Constantino voltou a se reunir com Lula. A seu lado, estava Roberto Teixeira.