Presidente eleito chega a Washington e afirma que Brasil e Estados Unidos têm de aperfeiçoar relações
WASHINGTON – O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem à noite ao chegar à residência do embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Rubens Barbosa, que o Brasil e os EUA têm de aperfeiçoar sua relações. “Minha expectativa é a melhor possível. São dois países importantes e temos muitas coisas para conversar”, afirmou. “Não vim aqui para reivindicar, vim falar de política.”
Quatro “fãs” brasileiras, que moram em Washington, esperavam Lula na casa do embaixador, sob um frio de 5 graus negativos. Emocionadas, beijaram e abraçaram o presidente eleito. A pernambucana Ana Maria Menezes, que mora há 20 anos nos EUA, deu a Lula uma estrela vermelha para ser entregue a sua mulher, Marisa, para enfeitar a árvore de Natal.
O encontro entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, hoje, não tem uma pauta de assuntos. Até porque não se trata de uma reunião de trabalho, já que Lula ainda não está no exercício do cargo. O objetivo do encontro de meia hora – que os americanos chamam de get together – é os dois se conhecerem, num bate-papo informal. E um deles deve puxar o tema central das relações entre os dois países: o comércio.
Os petistas falam em deslocar o enfoque da Área de Livre Comércio das Américas para um eventual acordo bilateral – dos EUA com o Mercosul ou até com o Brasil. O raciocínio é o de que o adiamento da revisão de sua Política Agrícola Comum pela União Européia, para 2007, neutralizaria os avanços no protecionismo do setor com os Estados Unidos, de interesse vital para o Brasil. O formato da conversa sugere que não se desça para esse detalhe, mas tudo é possível. Uma coisa é certa: “Não haverá negociação”, diz Barbosa.
Bush pode perguntar sobre a situação da economia brasileira. Em resposta, Lula deve mencionar o compromisso de seu governo com as metas acertadas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), entre elas o superávit primário (receitas menos despesa sem contar o pagamento de juros) de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Bush demonstrou interesse na prioridade dada por Lula ao combate à fome. É provável que pergunte sobre o Fome Zero e ofereça ajuda.
O presidente americano também deve puxar assunto sobre temas como o combate ao terrorismo internacional e o controle de armas de destruição maciça no Iraque. No âmbito regional, podem emergir o conflito armado na Colômbia e a política na Venezuela.
“Acho que eles vão se dar bem”, sorri o embaixador. Assim como Lula, Bush é informal, bem-humorado, não gosta de pompas nem de grandes elaborações intelectuais e valoriza a experiência prática e o ‘olho no olho’. A trajetória de Lula é motivo de admiração dos americanos, que apreciam as pessoas que sobem na vida por méritos próprios.
Lula chegou ontem às 21h15, horário de Brasília, na Base Aérea de Andrews, em Maryland. Foi recebido pela embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak, por Barbosa e por um representante do Departamento de Estado americano. Hoje à tarde, Lula fará um discurso no Clube Nacional de Imprensa que poderá ser acompanhado, simultaneamente, às 16 horas, horário de Brasília, no site
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