Lula politiza disputa pela sede da Olimpíada

‘Jogos Olímpicos não podem ser privilégio apenas do que eles consideram o mundo desenvolvido’, diz o presidente em Londres

 

LONDRES – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem um conteúdo político e ideológico à escolha da cidade sede dos Jogos Olímpicos de 2016, ao defender a candidatura do Rio de Janeiro. “O Brasil está disputando porque precisamos fazer o mundo olímpico perceber que a América do Sul tem o direito de sediar a Olimpíada”, disse Lula a jornalistas ingleses, depois de visitar o imenso canteiro de obras da Vila Olímpica, no leste de Londres.

Lula lembrou que, entre os países da América Latina, apenas o México foi sede dos Jogos, em 1968. “Antes e depois, eles foram sempre na Europa, nos Estados Unidos, no Japão e na Austrália”, disse o presidente, observando que muitos desses países foram sede mais de uma vez. “Os Jogos Olímpicos não podem ser privilégio apenas do que eles consideram o mundo desenvolvido.” Ele argumentou que a maioria dos esportes olímpicos é praticada por “pessoas pobres e de classe média, com exceção daqueles que têm de começar desde pequeno”.

“Não tem lugar melhor no mundo onde teremos o encontro da tecnologia mais sofisticada da Vila Olímpica com a beleza natural que Deus deu ao Rio”, afirmou o presidente, ao lado do governador do Rio, Sérgio Cabral, do prefeito Eduardo Paes, do ministro dos Esportes, Orlando Silva, e do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman. Eles argumentaram que parte da infra-estrutura estará pronta, graças à realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007 e da Copa do Mundo em 2014. O resto será construído com recursos do Plano de Aceleração do Crescimento, dos governos federal, estadual e municipal e parcerias com a iniciativa privada.

Cabral lembrou que o Rio “realiza o maior evento permanente de maneira festiva e organizada, que é o carnaval”, além de ter sido sede da Copa de 50 e da Rio 92 (cúpula ambiental). Uma jornalista brasileira perguntou sobre o aumento da violência no Rio. “Não houve piora da violência, mas o enfrentamento do problema”, disse o governador, enfatizando que o número de homicídios regrediu para os níveis de 1991. “Hoje temos comunidades pacificadas e o maior programa de segurança pública entre os países em desenvolvimento e democráticos.”

Lula completou a resposta, dizendo que, durante eventos desse porte, há um esquema de segurança especial, como no caso da Cúpula do G-20, em que 5 mil policiais foram colocados nas ruas de Londres. Ele lembrou que não houve nenhum incidente de violência durante os Pan-Americanos no Rio, e que o Brasil não tem o problema do terrorismo. “O único incidente que pode haver na Copa do Mundo é a gente não ganhar”, brincou. “Posso ter um enfarte.”

O presidente disse que “pede voto” para o Rio em todos os encontros com autoridades de outros países, e que nas reuniões tem sempre uma “fichinha” para lembrá-lo de falar do assunto. Nessa viagem a Londres, para participar da cúpula do G-20, ele abordou o tema com o príncipe Charles e com o primeiro-ministro Gordon Brown.

“Não estarei mais na presidência em 2016, mas os compromissos que estamos assumindo não são do cidadão Lula, mas do Estado brasileiro, do Estado do Rio e da prefeitura do Rio”, disse ele. Cada um desses entes comprometeu-se a investir US$ 12 milhões (R$ 26,76 milhões) na candidatura, totalizando US$ 36 milhões (R$ 80,28 milhões). Outros R$ 20 milhões já foram obtidos com a iniciativa privada. A campanha brasileira já custou R$ 55 milhões em dinheiro público.

O Comitê Olímpico Brasileiro contratou consultores de planejamento, instalações e relações públicas utilizados por Londres durante a sua campanha vitoriosa para 2012. É a terceira vez que o Rio se candidata. A cidade passou pela primeira fase de classificação, em junho, com notas maiores nos quesitos equipamentos e segurança do que nas outras vezes em que disputou, disse Cabral. Estão na disputa, além do Rio, Chicago, Tóquio e Madri. A escolha final será no dia 2 de outubro, em Copenhague.


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