Em ato pela paz, representante iraquiano causa constrangimento ao falar em ‘cemitério para os americanos’
PORTO ALEGRE – O Fórum Social Mundial terminou ontem do mesmo jeito que havia começado, na quinta-feira: com uma marcha. Cerca de 20 mil pessoas saíram do ginásio Gigantinho por volta das 18 horas e caminharam 2,4 quilômetros até o Largo do Epatur, um imenso pátio de estacionamento no centro de Porto Alegre , onde ouviram música e discursos.
O presidente da Comissão Pastoral da Terra, d. Tomás Balduíno, pediu que o governo promova este ano um plebiscito oficial sobre a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a exemplo do que foi feito pelas comunidades eclesiais de base e movimentos populares, no qual 10 milhões de pessoas votaram contra a iniciativa.
Kassab Hamud, que se apresentou como secretário do Congresso das Forças Populares do Iraque, causou constrangimento, ao declarar: “Não queremos guerra, mas, se os americanos quiserem, vamos transformar o Iraque num grande cemitério para os seus soldados.” Houve até um princípio de vaia. A manifestação era pela paz.
“Marcha contra a guerra e a Alca”, anunciava uma faixa preta, encabeçando a manifestação. Visivelmente orgulhosos, Basil Yousif e Nizan al-Ambak, professores de direito internacional na Universidade de Bagdá, pediram para ser fotografados na marcha, com um cartaz que dizia, em inglês: “Pare a guerra da América contra o Iraque.” No total, vieram oito iraquianos a Porto
Alegre .
O bloco mais comovente da marcha era o do Projeto dos Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo do Campo (SP). As crianças levavam uma grande Bandeira do Brasil, com suas pequenas mãos impressas em tinta verde sobre um fundo branco. No lugar do lema “Ordem e Progresso”, estava escrito que “mão de criança não pega no pesado”.
Um dos grupos mais animados era o da Central de Movimentos Populares (CMP). Suas palavras de ordem eram variadas. “Chávez é meu amigo; mexeu com ele, mexeu comigo”, dizia o apoio ao presidente da Venezuela. “Um, dois, três, Alca não tem vez”, puxava dona Anazir de Oliveira, de Bangu, uma negra jovial de 69 anos, coordenadora da CMP no Rio.
“Enquanto existe fome, enquanto existe guerra, a Via Campesina vai lutando pela terra”, animaram-se os sem-terra, gritando um dos lemas da organização internacional à qual está filiado o MST.
Os italianos davam risada. “As manifestações daqui são diferentes das de lá”, explicou Vittorio Agnoletto, coordenador do Fórum Social Italiano. “Aqui, ainda há movimentos de massa, enquanto na Itália são pequenos grupos, pequenas associações que promovem as manifestações. Mas os objetivos são os mesmos – todos somos contra o modelo neoliberal.”
Com Roldão Arruda