‘Não atropelamos nada’, diz presidente

Segundo Campanhola, programa de pesquisas e critérios de seleção vão continuar

 

 

BRASÍLIA – As pesquisas voltadas para o agronegócio continuarão absorvendo a maior parte dos recursos de custeio da Embrapa, orçados este ano em R$ 224 milhões. Não haverá descontinuidade no programa de pesquisas, apenas uma ênfase gradual no pequeno produtor. É o que garante o presidente da Embrapa, Clayton Campanhola.

Estado – Como a reorientação de prioridade do agronegócio para o pequeno produtor deve ser posta em prática no nível da pesquisa na Embrapa, que já beneficiava a agricultura familiar?

Clayton Campanhola – A Embrapa é uma empresa extremamente estruturada e que dá certo. Não vamos mexer na programação da Embrapa. Em nenhum momento nos propusemos a não honrar todos os projetos em andamento. Não faz sentido a Embrapa abrir mão daquilo que conquistou ao longo da sua história, que é a competência no agronegócio, na inovação tecnológica. Você está correto: a Embrapa já gera tecnologia para diferentes públicos. Vamos trabalhar com muito cuidado ao reforçar as linhas de ação que a Embrapa precisaria reforçar. No nosso plano plurianual de 2004 até 2007, que apresentei hoje no Conselho de Administração, neste ano ainda estão indo R$ 137,5 milhões para pesquisa e desenvolvimento para competitividade e sustentabilidade do agronegócio. E 30% desses recursos vão para biotecnologia. Para essa nova perna que temos que desenvolver, que é focar um pouco nas comunidades locais e promover a inserção desses agricultores familiares no mercado e no agronegócio, temos recursos pequenos, de R$ 12 milhões.

Estado – Essa correlação vai mudar, com o tempo?

Campanhola – Não. É a mesma proporção nos quatro anos. Quando você começa com uma coisa nova, primeiro é preciso entender bem como gerir os resultados. Há muitos agricultores familiares que já estão integrados ao mercado, que podemos considerar empresários. Não dá para separar as duas coisas .

Estado – Qual o seu sentimento sobre os transgênicos?

Campanhola – Acho que tem que estudar. Feitos os testes, seguida a legislação de biossegurança, respeitadas as regras, não tem problema nenhum. Temos técnicos e pesquisadores competentes nessa área e temos que aproveitar esse potencial. É questão de estratégia para o País. Temos que ter independência tecnológica. O papel da pesquisa é desenvolver mais tecnologia para que isso possa ser feito de maneira adequada e as decisões possam ser tomadas em cima das informações que a pesquisa gera.

Estado – O que o senhor achou do projeto de Lei de Biossegurança aprovado na Câmara?

Campanhola – Para pesquisa, foi positivo. A CTNBio tem condições agora de dar licença para fazer pesquisa, que é o que nos compete. O projeto original não separava muito a pesquisa da comercialização. Os pesquisadores da Embrapa sugeriram que fosse separado, nós apresentamos a proposta e isso foi incorporado. Tudo vai depender da regulamentação. Nossa expectativa é que seja um processo desburocratizado.

Estado – Qual a diferença entre o que se fazia na gestão anterior e o que o senhor está fazendo agora?

Campanhola – Muito pouca diferença. Esse sistema de planejamento da Embrapa foi criado em 2002. Demos continuidade a ele. Em nenhum momento cancelamos algum projeto. Não temos nenhuma intenção de forçar os pesquisadores a mudarem de área. Não questionamos absolutamente nada. Projeto de pesquisa, para ser aprovado, passa por uma série de etapas. É feito por edital. Mesmo dentro da Embrapa há uma competição entre os projetos. Há uma comissão que analisa isso, com pessoas de fora.

Estado – Dos chefes de unidades que o senhor nomeou, pelo menos dez são do PT e do sindicato?

Campanhola – Quero ser bem franco com você: não olho essa variável. Não quero nem saber. Obviamente podem existir pressões, mas não é essa variável que pesa na decisão. Sou muito cobrado por resultados. Então, não posso prescindir de qualidade para gerir as unidades. A responsabilidade é minha. Sou eu que nomeio o chefe-geral e ele tem autonomia para escolher os chefes-adjuntos. Digo a ele: quero resultados. Não atropelamos nada. Não houve nenhuma intenção de chegar e mudar tudo. Aperfeiçoamos o processo de seleção. Além do currículo e da proposta de trabalho apresentada a uma comissão, contratamos uma empresa de recrutamento de São Paulo para avaliar a capacidade de gestão do candidato. Os três critérios são eliminatórios. A nota de corte para o currículo e a proposta é de 50% e para o perfil gerencial, de 60%.

Estado – Mas mesmo na sua equipe imediata os diretores foram indicados pelo PT e pelo sindicato.

Campanhola – Essas coisas foram negociadas comigo. Eu montei essa equipe. Exijo dessas pessoas que não misturem papéis. Que estejam do lado da Embrapa. Não permito ingerência do sindicato. Raramente converso com dirigente sindical. É a primeira vez em 30 anos de história da Embrapa que o presidente e os três diretores-executivos têm doutorado. 


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