Para diretor do banco, programas atuais podem ser ‘ajustados’ a novas prioridades
WASHINGTON – O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu ontem, durante discurso na sede do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma política que concilie programas sociais com responsabilidade fiscal. “É plenamente possível fazer política social e ao mesmo tempo sermos responsáveis e sem fazer populismo”, disse Lula, depois de reunião com o presidente do BID, Enrique Iglesias.
Segundo Lula, Iglesias demonstrou disposição de canalizar recursos para o combate à fome e para projetos de urbanização e saneamento básico. Para os próximos quatro anos, o BID poderá destinar ao Brasil US$ 11 bilhões, dos quais US$ 6 bilhões são recursos novos e US$ 5 bilhões são para programas em andamento. De acordo com o ex-ministro do Planejamento Martus Tavares, diretor-executivo do BID para o Brasil, os programas em andamento podem ser “ajustados” para atender às novas prioridades do futuro governo. Técnicos do BID e integrantes da equipe de transição de Lula já têm trabalhado nessa linha.
Antes do encontro no BID, Lula visitou a central sindical American Federation of Labour – Congress of Industrial Organizations (AFL-CIO), com a qual mantém contato desde sua primeira viagem aos EUA, em 1980. No encontro com os dirigentes sindicalistas, Lula lembrou sua trajetória, enfatizou a importância de suas alianças com os movimentos sociais e com a Igreja Católica e disse que um trabalhador que chegou ao poder, como ele, “não pode errar”.
No fim da tarde, recebeu um grupo de congressistas americanos – dois senadores e quatro deputados. Um dos senadores era Lincoln Chafee (republicano de Rhode Island), que será o próximo presidente da Subcomissão para o Hemisfério Ocidental da Comissão de Relações Exteriores do Senado. O outro era Christopher Dodd (democrata de Connecticut). Entre os deputados estava Cass Ballengher (republicano de Carolina do Norte), que presidirá na Câmara a mesma subcomissão de Chafee no Senado.
No início da noite, foi a vez de receber o representante de Comércio dos EUA, Robert Zoellick – aquele que Lula chamou de “sub do sub do sub”, por ter dito que, se o Brasil não queria a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a alternativa era a Antártida. No encontro, que durou cerca de meia hora, Zoellick propôs, e Lula aceitou, uma reunião dos dois no Brasil, para discutir formas de pôr em prática a co-presidência Brasil-EUA na Alca e uma possível atuação conjunta em alguns temas na Organização Mundial de Comércio (OMC).
À saída, Zoellick respondeu rapidamente a uma ou duas perguntas e comentou: “Eu gostaria de ficar mais, mas estou no meio de negociações com o Chile e tenho de sair agora.” Estados Unidos e Chile discutem, esta semana, detalhes de um possível tratado bilateral nos moldes do que o Chile acaba de assinar com a Comunidade Européia.
Depois desse encontro, o embaixador Rubens Barbosa ofereceu um jantar para 72 convidados. Ao lado dele e do presidente eleito estavam, entre outros, o presidente da Alcoa, Alan Belda, os vice-presidentes do Citigroup, William Rhodes, e da Boeing, Thomas Pickering, o presidente do Bird, James Wolfensohn, o ex-subsecretário para Assuntos Latino-Americanos do governo Bush, Otto Reich, o economista Albert Fishlow, além do empresário Mario Garnero, o governador reeleito de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) e o deputado federal eleito Henrique Meirelles (PSDB-GO).
Hoje, o presidente decola às 9 horas para a Cidade do México, onde no início da tarde reúne-se com o presidente Vicente Fox, antes de voltar a São Paulo.