ONGs não podem substituir Estado

MEC reconhece que ensino médio é o ‘elo mais fraco’ e promete mais qualidade e cursos profissionalizantes

 

Com seu êxito, a Casa do Zezinho dá uma medida do quanto mais precisa ser feito: ela atende 1.200 crianças e jovens, enquanto outros 2 mil esperam na fila para entrar, que dura mais de quatro anos. A situação é parecida noutras entidades. Por mais valioso que seja o seu trabalho, as organizações não-governamentais não podem substituir o Estado e suprir as demandas dos jovens pobres.

Para o educador Cláudio de Moura Castro, do grupo Pitágoras, de Minas Gerais, o Brasil precisa de muito mais cursos profissionalizantes para suprir as necessidades da maioria. E encaminhar a minoria com talentos especiais para “escolas de elite” que os preparem para entrar nas universidades públicas ou privadas, com bolsas de estudo.

“Todo país tem essas escolas de elite”, diz o especialista. “No Brasil, criou-se uma ideologia antagonista a isso, uma enorme resistência à idéia de que os mais talentosos têm de ser colocados em instituições especializadas. Acha-se que eles têm de florescer na escola onde estão. Na verdade, significa fenecer, porque têm de fingir que são burros para sobreviver.”

Maria do Pilar Lacerda, secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, nega que o governo tenha preconceito contra ensino diferenciado para os jovens mais talentosos. Segundo ela, por meio da Prova Brasil, foram identificados 200 alunos de 8ª série com rendimento igual aos dos melhores alunos do ensino médio. Eles serão levados para cursar o ensino médio nos Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets).

Além disso, diz a secretária, outros 2 mil estudantes com desempenho muito alto serão levados às melhores escolas públicas do País, como o Colégio Pedro II, no Rio. Pilar acrescenta que o governo está construindo 234 escolas técnicas entre 2004 e 2010 (mais de 130 já inauguradas), que se somarão às 109 existentes. Todas as 54 mil escolas públicas urbanas estão sendo dotadas de conexão de internet de banda larga e o governo está investindo R$ 900 milhões em laboratórios de ciências nas escolas.

A secretária diz também que o currículo será mudado, para aperfeiçoar a capacidade de leitura e aprofundar o conhecimento científico dos alunos, em vez de obrigá-los a decorar matérias para o vestibular. “Sabemos que o ensino médio é o elo mais fraco da educação básica”, reconhece Pilar. “Estamos fazendo de tudo para melhorá-lo.”

Levará tempo para a maioria dos jovens da periferia adquirir confiança no sistema e em si mesmos. “Eles se auto-excluem”, constata o economista Nilson Oliveira, do Instituto Fernand Braudel. Ele observa que, embora 84% dos alunos estudem em escolas públicas, apenas 35% dos candidatos ao vestibular da Fuvest, em São Paulo, provêm dessas escolas.

A USP oferece 63 mil isenções da taxa de inscrição para quem tem renda familiar abaixo de R$ 486 per capita. No ano passado, só 31 mil usaram esse benefício. As inscrições no programa Inclusp, que atrai alunos de escolas públicas, vêm caindo, do topo de 72,5 mil, em 2006, para 46 mil, neste ano. “O problema é anterior”, diz Oliveira. “Eles não se permitem o sonho.” 



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