Prefeito do PT revogou desapropriação de terreno

Dalmiro Lorenzoni, cujo irmão pagou uma parcela da cobertura do presidente Lula, em 1995, participou do intrincado negócio de um terreno em São Bernardo, que envolveu o advogado Roberto Teixeira, o empresário Antônio Celso Cipriani e o ex-deputado petista Luiz Eduardo Greenhalgh.

 

O caso começou em maio de 1991, quando o então prefeito interino de São Bernardo Djalma Bom (PT), amigo de Lula, revogou a desapropriação de uma área que havia sido declarada de utilidade pública, em 1979, para a construção de alças de acesso a um viaduto no km 22,5 da Rodovia Anchieta. A medida foi motivada por uma ação de Teixeira, que, supostamente sem receber honorários, agiu com procuração dos proprietários de terrenos e casas na região.

Em 25 de outubro de 1991, a Sociedade Auxiliar de Empreendimentos e Participações Socepal S/C Ltda., proprietária de um terreno de 3.347 m² naquela área, dividiu-o em dois e os vendeu a Cipriani. Teixeira era advogado tanto da Socepal quanto de Cipriani. A parte maior, de 1.946,6 m², foi vendida por Cr$ 2.721.144,60 (R$ 16.270,54, corrigidos pelo IPC-A); e a área menor, de 1.400,4 m², por Cr$ 1.995.506,04 (R$ 11.931,73).

Oito meses depois, em 14 de junho de 1992, a Dalmiro Lorenzoni Arquitetura Engenharia e Construções Ltda. comprou as duas áreas de Cipriani, a maior por Cr$ 200 milhões (R$ 225.600,00) e a menor, por Cr$ 1,4 bilhão (R$ 1.579.200,00). O lucro de Cipriani, em valores de hoje, foi de R$ 1.776.597,73.

No terreno menor, a Dalmiro Lorenzoni construiu o Edifício Garden Village, com 72 apartamentos. Já a área maior ela vendeu a Greenhalgh em 1º junho de 1995, por R$ 400 mil (R$ 1.007.993,44, em valores corrigidos). O ganho de Lorenzoni foi de R$ 782.393,44.

Na época vice-presidente nacional do PT, Greenhalgh foi um dos coordenadores da campanha de Lula à Presidência, em 1994. Em dezembro de 1999, Greenhalgh vendeu o terreno pelos mesmos R$ 400 mil à SQG Empreendimentos e Construções Ltda., assimilando um prejuízo de R$ 296.094,72, em valor atualizado.

Teixeira atuou como advogado também de Lorenzoni. A Mito Empreendimentos Comerciais e Imobiliários Ltda., de Teixeira, ficou com 13 dos 72 apartamentos construídos pela Dalmiro Lorenzoni no terreno cuja desapropriação fora revogada.

Dentre os muitos serviços prestados por Teixeira a Cipriani está o descarrilamento da CPI do Banestado. O advogado intercedeu, em março de 2003, com o deputado José Mentor (PT-SP), seu amigo de longa data e relator da CPI, para evitar a quebra do sigilo bancário de Cipriani, pedido por parlamentares da oposição, diante de indícios de que o presidente da Transbrasil teria movimentado cerca de US$ 100 milhões no exterior, enquanto a sua companhia aérea falia, deixando passivo final de R$ 1 bilhão.

A intervenção de Mentor desencadeou uma guerra de chantagens políticas, na forma de convocações e quebras de sigilo dos adversários, e resultou no fim da CPI sem uma conclusão. 


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