Nas últimas semanas, a pausa nas greves e a relativa calma no campo provocaram especulações de que os sindicatos e o Movimento dos Sem-Terra estariam fazendo uma “trégua” para não prejudicar os planos eleitorais do PT.
Os dois segmentos descartam essa possibilidade e reafirmam sua autonomia em relação ao partido. Mas a sua intensa atividade de campanha eleitoral em favor do PT é uma das explicações para o refluxo nesses movimentos.
“Jamais foi exigida de nós uma trégua e se fosse discordaríamos rotundamente”, garante João Antonio Felício, presidente da CUT. “Nunca demos trégua a governos do PT”, afirma. “Temos um histórico de conflitos de interesses com os governos populares (do PT) no Rio Grande do Sul, Acre, Distrito Federal e Espírito Santo”, confirma João Vaccari Neto, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e Osasco.
“Orientamos a antecipar a negociação dos acordos coletivos de trabalho para deixar os sindicalistas livres para apoiar seu candidato que, segundo nossa orientação, é o Lula”, explica, no entanto, Felício. Os químicos, por exemplo, cuja data-base é novembro, fecharam este mês acordo com os patrões, que vão repor a inflação total dos últimos 12 meses. A data-base dos metalúrgicos também é novembro, mas o acordo firmado no ano passado tem validade de dois anos. Os bancários, que têm data-base em setembro, mas cujas negociações às vezes se arrastam até novembro, fecharam acordo essa semana.
“Achamos que o apoio a Lula não é um mero apoio político”, justifica Felício. “É uma questão sindical também, porque na avaliação nossa, para fazer as mudanças que queremos, teremos que ter uma atuação no processo eleitoral.” Na CUT e no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, berço do PT, a música de espera do telefone é o hino da campanha de Lula.
Dirigentes do MST e da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) disseram que, no momento, a atividade está reduzida porque os militantes estão trabalhando na campanha eleitoral. Ainda assim, no domingo retrasado, 460 famílias lideradas pelo MST invadiram a Fazenda Santa Fé, em Sandovalina.
Muitos sem-terra acampados no Estado dizem ainda não ter decidido em quem votar para presidente nem ter recebido orientação do MST. Já o candidato a governador pelo PT, José Genoíno, tem presença mais marcante, tendo percorrido alguns acampamentos. “Estou firme com o barba branca”, sorri Jorge Ferreira da Silva, no acampamento de Nova Canudos, em Iaras, 260 quilômetros a oeste de São Paulo.
“Genoíno esteve aqui antes da Romaria da Terra, ano passado”, lembra Cirilo José dos Santos, que pregou um cartaz dele em seu barraco. “Temos que ‘instrumentar’ o Lula. Se bem que o homem não conserta mais o Brasil. Só Deus.”