A Leão Leão diz que ele pediu para sair até que se apure a acusação de tráfico de influência
RIBEIRÃO PRETO – O vice-presidente executivo do Grupo Leão Leão, Rogério Tadeu Buratti, pediu seu afastamento da empresa até que sejam esclarecidas as suspeitas de tráfico de influência que pairam sobre ele. O anúncio será feito amanhã, pela Leão Leão, em nota publicada nos jornais. Segundo o grupo, a iniciativa de sair foi do vice-presidente, não da empresa.
Em depoimento à Polícia Federal no dia 12, dois executivos da multinacional americana Gtech afirmaram que o ex-subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz condicionou a renovação de um contrato com a Caixa Econômica Federal à contratação de Buratti como intermediário. A empresa apresentada para fazer a intermediação, ao preço de R$ 6 milhões, teria sido a BBS Consultores Associados Ltda., registrada em nome de Buratti e de sua mulher, Elza.
Buratti admite ter recebido um convite da Gtech para intermediar a renovação do contrato, mas nega que se tenha discutido propina e diz que não aceitou o serviço. Ele assegura, ainda, que não conhece Waldomiro, braço direito do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, até a divulgação, no início do mês, de um vídeo em que ele aparecia pedindo propina a um bicheiro. Os executivos, Antonio Carlos Rocha, ex-presidente da companhia, e Marcelo Rovai, diretor de Marketing, garantem que a Gtech se recusou a pagar a propina e o contrato de R$ 650 milhões foi renovado assim mesmo.
A BBS tem como endereço a casa onde mora a filha de uma copeira da Leão Leão, num conjunto habitacional de Jardinópolis, a 20 quilômetros de Ribeirão Preto. A copeira, Lourdes Périco Dias, que ganha R$ 560 por mês, declarou ao Estado que recebe um salário mínimo por ano em troca do favor, pedido pelo chefe da contabilidade da Leão Leão, João Francisco Cândido. Nem Buratti nem Cândido retornaram as ligações da reportagem.
O contador José Henrique Barreira, responsável pela contabilidade da BBS, disse ontem que a empresa foi registrada com sede em Jardinópolis para pagar menos Imposto Sobre Serviços (ISS). “É uma prática comum entre as empresas”, argumentou Barreira. Até a unificação de alíquotas, que entrou em vigor este ano, Jardinópolis cobrava 1% de ISS e Ribeirão, de 2% a 5%.
De acordo com o contador, a BBS fatura “entre R$ 200 mil e R$ 300 mil ao ano”. Sua principal cliente é a própria Leão Leão, além de outras empresas privadas, cujo nome Barreira não soube dizer. O contador explicou que Buratti não tem vínculo empregatício com o grupo e, portanto, recebe pela função de vice-presidente por meio de contrato de assessoria e consultoria prestadas pela BBS à Leão e Leão.
Palocci – Buratti foi secretário de Governo de Ribeirão Preto entre 1993 e 1994, quando o atual ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, era prefeito da cidade. Deixou o cargo depois do vazamento de uma fita na qual ele discutia com representantes da construtora Almeida & Filhos a distribuição de licenças de empreendimentos. Palocci garante que, desde então, não teve mais “relação de trabalho e de amizade” com Buratti.
Entretanto, a TV Record informou ter flagrado o chefe de gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, na casa de Buratti, na manhã de sábado, um dia depois do depoimento dos executivos da Gtech. Dourado, surpreendido ao atender o telefone, disse que estava “alugando” a casa, da qual Buratti estava se mudando. Buratti alegou não ter visto Dourado naquele dia e negou que estivesse alugando a casa para o chefe de gabinete de Palocci. Um porteiro do condomínio confirmou ter visto Dourado saindo de lá. Dourado nega que tenha estado na casa de Buratti.
O Grupo Leão Leão, presidido por Luís Cláudio Leão, faturou R$ 170 milhões no ano passado. Tem mantido grandes contratos de coleta e varrição de lixo, aterros sanitários e obras de infra-estrutura com a prefeitura de Ribeirão e de outras cidades da região, além de concessões de rodovias. Buratti ocupa a vice-presidência do grupo há cinco anos.
Depois de sair da Secretaria de Governo, ele abriu, junto com Luiz Antônio Prado Garcia, ex-presidente da Comissão de Licitações da Prefeitura, a empresa Assessorarte, que organiza concursos públicos para os municípios da região. Em 2002, Buratti transferiu sua parte na sociedade para a irmã, Rosângela.