Coalizão de Lagos encara vitória como derrota

Vantagem de apenas 30 mil votos do governista supera expectativas do direitista La

 

SANTIAGO – O candidato da coalizão governista Concertação, Ricardo Lagos, venceu o primeiro turno das eleições presidenciais chilenas pela escassa margem de 30 mil votos sobre Joaquín Lavín, da Aliança pelo Chile, de direita. Num universo de 7,2 milhões de votos, foi virtual empate. Entretanto, o resultado foi assimilado como derrota pela Concertação e como agradável surpresa pela Aliança.

“Estou contente por representar metade do povo chileno”, disse ontem Lavín. “Não esperava ter 47% dos votos.” Na noite de domingo, somente os partidários da Aliança saíram às ruas para festejar, depois do anúncio dos resultados.

Na eleição de 1993, os dois candidatos da direita tiveram, somados, 34% dos votos e Eduardo Frei, da Concertação, foi eleito no primeiro turno, com 58%. Na eleição anterior, em 1989, Patricio Aylwin, da mesma coalizão, também foi eleito no primeiro turno, com 54%.

Frei e Aylwin pertencem à Democracia Cristã (DC), o maior partido do Chile, enquanto Lagos é do Partido Socialista (PS). Pela primeira vez em quatro décadas, a DC apoiou um candidato de outro partido. Desta vez, parte de seu eleitorado preferiu o candidato da direita.

Lagos assumiu ontem a defensiva, ao ser indagado se sofreu “voto de castigo” no domingo. “Foi um voto de insatisfação, numa eleição em condições econômicas pouco satisfatórias, com crescimento zero e desemprego de 11%”, justificou, referindo-se aos efeitos da crise financeira internacional do ano passado e em especial da desvalorização do real, em janeiro, que reduziram os investimentos e as exportações.

O candidato da Concertação passou toda a campanha dizendo que seria eleito já no primeiro turno, com mais da metade dos votos válidos, enquanto Lavín estabeleceu como meta chegar ao segundo turno.

Lagos teve 47,96% dos votos válidos e Lavín, 47,52%.

Desde 1997 até as vésperas das eleições, os principais institutos de pesquisa previam vitória de Lagos – inicialmente por ampla margem, que se foi estreitando, mas nunca ficou abaixo dos 6 pontos porcentuais. Apenas pesquisas encomendadas pelo comando de Lavín e por empresários que o apóiam previram empate ou mesmo vitória do candidato.

Lagos recomeçou ontem mesmo a campanha. Seu primeiro compromisso foi uma reunião com um grupo de mulheres da comunidade de La Granja, na região metropolitana de Santiago, marcando uma das novas prioridades de sua campanha: conquistar o voto feminino, maciçamente canalizado para Lavín no primeiro turno.

Pouco mais de 1,6 milhão de mulheres votaram em Lagos, enquanto mais de 1,9 milhão votaram em Lavín. As seções eleitorais são separadas por sexo no Chile.

 

“As mulheres são mais conservadoras, mais sensíveis ao bem-estar da família e dos filhos, querem viver tranqüilas e preocupam-se essencialmente com a segurança e o emprego”, interpretava ontem a deputada María Angélica Cristi, do comando da campanha de Lavín. O candidato lançou uma espécie de cruzada contra o desemprego e a criminalidade.

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