O direitista Lavín rompe tradição de que só a esquerda representa os pobres
SANTIAGO – O candidato da coligação de direita, Joaquín Lavín, recebeu mais votos dos pobres do que o do governo, Ricardo Lagos, integrante do Partido Socialista. Nas 14 comunas mais pobres do Chile, com proporção de indigentes de 15% a 27%, Lavín obteve 53% dos votos e Lagos, 43%. Nas comunidades dos índios mapuche, que lutam por terras e contra a discriminação, o contraste foi ainda mais forte: 58% para Lavín e 38% para Lagos.
“No Chile, durante anos, vendeu-se a idéia de que a esquerda era a única que podia interpretar a necessidade dos pobres, a justiça social ou os direitos humanos e, pela primeira vez em muito tempo, um candidato de direita recebe um apoio tão maciço do povo pobre”, analisa o chefe do marketing de Lavín, Martin Subercaseaux. “Rompe-se de uma vez por todas esse esquema segundo o qual a direita é o partido dos ricos e a esquerda, o dos pobres.” O cientista político Ricardo Israel lembra que Lavín foi ridicularizado por procurar aproximar-se das pessoas humildes e das minorias, deixando-se fotografar vestindo as roupas típicas e as lanças com que os índios o presenteavam. “Funcionou”, observa.
Lagos, em contraste, fixou-se na posição de “estadista”, pertencente ao grupo dos que derrubaram a ditadura de Augusto Pinochet (1973-90), e no chavão da igualdade social, quando boa parte dos chilenos parece interessada em frutos mais imediatos. Ao “populismo indefinido” de Lagos, como o descreveu um jornalista, Lavín contrapôs uma mensagem simples e direta: combater o desemprego e a criminalidade.
“Lavín foi criticado por ser simples e repetitivo demais, mas é assim que o povo entende”, explica o publicitário Subercaseaux. “O que queremos os chilenos?”, pergunta: “Um presidente que tire fotos com mandatários estrangeiros ou que melhore nossa vida?” Por incrível que pareça, o critério das fotos pesou nas primárias de maio, quando foi escolhido o candidato da Concertación. Segundo o cientista político Guillermo Holzmann, um dos motivos da derrota do presidente do Senado, o democrata-cristão Andrés Zaldívar, que disputou a candidatura com Lagos, foi sua exígua altura, de pouco mais de metro e meio: “Diziam que ele não ficaria bem ao lado de Bill Clinton e não representaria bem o país.”