Cheguei nesta segunda-feira (13) ao Chile, para cobrir as eleições do próximo domingo, 19, depois de um longo intervalo: minha última cobertura aqui foi de uma reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em março de 2001. Como em toda cobertura, minha primeira medida foi tentar comprar um chip de celular local. E aí tive uma surpresa: para usar um celular comprado em outro país, é preciso habilitá-lo perante uma operadora local.
O processo leva 48 horas “úteis” (espero que as horas noturnas não sejam descontadas como “inúteis”) e requer vasculhar as entranhas do aparelho, para descobrir seu IMEI, que é um número que o identifica, tirar fotos da tela mostrando esse número e o passo dado para chegar até ele (digitar *#06#). O formulário no site da operadora está configurado para só aceitar como número de documento de identidade a RUT (Rol Único Tributário), o CPF chileno. Como exigem o scan do documento, você precisa encontrar no seu RG (ou no meu caso a habilitação) algum número que tenha a mesma quantidade de algarismos do RUT: 10.
Não contentes, eles exigem um scan da nota fiscal do aparelho. Pois é. Encontrei exigências dessa ordem na primeira vez que fui ao Irã, em 2006. Em 2009, já se podia comprar chips locais em Teerã sem essa burocracia. Na Venezuela, a lei prevê um controle parecido, mas é fácil de burlar: o país está caindo aos pedaços, e as pessoas encontram jeitinhos para ganhar algum dinheiro.
Aqui em Santiago, me indicaram bancas no Mercado Persa, no centro, o equivalente aos camelódromos de xing lings do Brasil, só que sem asiáticos, mas com venezuelanos atendendo. Depois de tentar habilitar o chip no celular deles e passar para o meu, constataram ser inútil, talvez por se tratar de um iPhone, segundo alguns. Passei a tarde toda nisso.
Quando um repórter brasileiro — e de outros países sul-americanos — vem ao Chile, traz pautas relacionadas com as experiências chilenas com reformas já maduras, ainda em debate nos vizinhos. O Chile é um laboratório de experimentos liberais, uma plataforma de exportação, uma referência de modernidade para a região.
Mas, ao mergulhar na vida cotidiana, você descobre que nenhum país tem um passado ibérico impunemente.