BOGOTÁ — O candidato do governo à presidência da Colômbia, o liberal Horacio Serpa, declarou ontem estar disposto não só a fazer concessões à guerrilha, mas, se necessário, a trabalhar pela convocação de uma Assembléia Constituinte, para fazer as “modificações necessárias” para se chegar à paz.
Respondendo a uma pergunta do Estado durante entrevista à imprensa, o ex-ministro do Interior deixou em aberto que concessões e mudanças seriam essas: “Não se pode fazer ofertas concretas antes de se iniciar as negociações.” A principal plataforma da campanha de Serpa é a pacificação da Colômbia, mergulhada numa guerra civil e crime organizado que matam 40 mil pessoas por ano. Pelas pesquisas, Serpa deve ficar em segundo lugar na eleição de domingo, e disputar o segundo turno, em 21 de junho, com o candidato conservador Andrés Pastrana. Durante sua campanha, cujo slogan é “Serpa é a paz”, o candidato liberal tem enfatizado que pretende conduzir pessoalmente as negociações com os guerrilheiros de esquerda e os paramilitares de direita.
Indagado por que não avançou no processo de paz quando era ministro do Interior, Serpa respondeu: “Eu não era presidente da república. Estou lutando para ser o presidente.” Analistas e diplomatas em Bogotá concordam que, durante o governo de Ernesto Samper, cujo mandato se encerra em agosto, não havia condições para esse avanço, por um problema de credibilidade.
Samper e Serpa, defensor e articulador político do presidente, passaram o mandato inteiro tentando desvencilhar-se do escândalo dos US$ 6 milhões, supostamente doados pelo cartel de Cali para a sua campanha de 1994. A liderança das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) recusou-se a negociar com o governo, alegando que lhe faltava “legitimidade”.
Em contraste, tanto as Farc quanto o Exército de Libertação Nacional (ELN) acenam com a disposição de abrir negociações com o próximo governo. O mesmo problema de credibilidade impediu o estreitamento das relações entre Brasil e Colômbia. Fontes diplomáticas disseram ao Estado que se notou uma sinergia grande entre Fernando Henrique Cardoso e Samper, num encontro antes de o presidente colombiano eleito tomar posse, em 1994. O escândalo, que eclodiu logo depois, levou ao cancelamento de visitas por parte do Brasil.
Serpa, que se autodefine como de centro-esquerda e estava acompanhado de sua candidata a vice, María Ema Mejía, também foi indagado pelo Estado sobre uma possível reorientação para o sul da política externa e do comércio exterior da Colômbia. Ele declarou-se interessado na integração entre a Comunidade Andina (Colômbia, Venezuela, Chile, Peru e Bolívia) e o Mercosul , que negociam a criação de uma zona de livre comércio, já para o ano que vem.